A questão da relação dos homens com seus filhos gerados fora do casamento ou após a separação é bem característica. Muito freqüentemente o laço dos homens com seus filhos é frouxo. O homem se relaciona com uma mulher, e dentro de um laço afetivo erótico, ou apenas erótico tem relações sexuais com ela. Se ela engravida, às vezes deseja que ela aborte. É dentro dela que aquela vida, aquele ser está se desenvolvendo. Com muita freqüência a mulher desenvolve um laço afetivo intenso com a gestação, com o ser que sente ou sabe que está morando dentro de si, em desenvolvimento.
É muito cômodo para o homem pedir que ela aborte. Não é ele quem vai carregar esta marca pelo resto de sua vida. Se a gestação vai a termo é a mulher que sente esta vida dentro de si, que tem que expulsá-la na hora do parto, que vai amamentá-lo e que quase sempre terá a maior parte dos cuidados com a criança pelo menos nos primeiros anos de vida – e muitas vezes por toda a infância desta criança.
Os homens ficam como provedores mais ou menos envolvidos afetivamente, com freqüência incomodados com a presença dos filhos que atrapalham e dificultam a vida sexual do casal. Além do que, o laço afetivo intenso das mulheres com seus filhos, muitas vezes desperta ciúmes no homem, rivalidade, sente-se excluído. Quando o filho foi gerado fora do casamento, às vezes convive pouco com a criança, ou porque a “legítima esposa” não sabe do filho, ou porque ela tem medo de que através do contato com a criança o homem tenha novas oportunidades de vida sexual com a antiga namorada.
Quando a mulher pede a separação, com freqüência o homem tenta castigá-la, dificultando a pensão alimentícia, tornando-se omisso com a criança ou mesmo se desinteressando dos filhos que teve com esta mulher. “Se você não me quer mais como marido eu te castigo e deixo você sofrer criando os filhos sozinha. Eu era até um bom pai, mas se você não me quer, não vou pajear as crianças para você namorar em paz.”
Já observei este fenômeno muitas vezes. Muitos pais só são pais enquanto vivem com os filhos. Quando passam a viver em casas separadas – mesmo se foi ele quem quis a separação – ‘esquece’ que tem filhos, ou os trata com distância e falta de compromisso.
Além disto a educação dos homens é extremamente falha com relação aos futuros filhos. As meninas, mesmo bem pequenas, cuidam de bonecas, como se filhos fossem, ensaiando na fantasia a futura maternidade. Os homens brincam com carros ou com esportes. As mães programam os filhos para que pouco tenham a ver com os futuros filhos, dizendo nas entrelhinhas para seus filhos homens: ‘Criar filhos é assunto das mulheres’. Suponho que a maioria dos pais acha que seu filho desenvolveria tendências homossexuais se ficar brincando de boneca, ensaiando cuidados com futuros bebês ou crianças.
Quando mais tarde o homem adulto quer apenas cuidar do seu carro ou sair com os amigos para praticar esportes, as mulheres ficam revoltadas com a omissão masculina diante dos filhos. Mas será que esta mesma mulher que reclama ensinará o seu filho pequeno a cuidar de bebês, “brincando de boneca”? Qual o filho homem que quando criança ganhou de aniversário um bebê de brinquedo? Talvez esta pergunta desperte riso em quem a ler, porque o nosso machismo está muito bem entranhado…
Felizmente, apesar da maioria das mães não ter preparado seus filhos para cuidar de bebês e crianças, existem muitos homens que são bons pais: interessados, responsáveis, sem medo de aparentar falta de masculinidade ao cuidar com carinho e competência de suas crianças. E que no caso de separação conjugal permanecem lúcidos, assumem os filhos de modo afetuoso e responsável.
Comentários
É, realmente é triste essa realidade,e quando acontece com um filho fica ainda mais penoso.
Sou mãe de dois filhos e ao ler esse artigo, descubro que nós mulheres somos as maiores culpadas pela omissão deles em relação aos filhos. Mas qual seria a melhor maneira de convencê-los que eles são responsáveis no cuidado com os filhos ainda que separados de suas ex esposas? Gostaria de ter a oportunidade de voltar ao tempo, mas, como não é possível, fico numa briga ferrenha na defesa das mulheres que ficam a cuidar de seus filhos sozinhas. E ainda assumindo o papel de mãe, pai e avó dos filhos rejeitados. Acredito que assim atenuo minha culpa. Ao mesmo tempo feliz ao ver pais que cuidam de seus filhos com muito carinho. Pensei que essa nova geração era diferente.