Não. Não sou pessimista. Nem profeta do caos. Apenas ligo a TV, passeio pelas redes sociais, ouço as novas, tão velhas!, de Brasília e de Paris, e não posso ignorar o óbvio: caminhamos para o abismo.
Em sua raiz grega, “abismo” designa algo sem fundo. Tem vários sinônimos: voragem, vórtice, despenhadeiro. Mas prevalece a ideia de uma queda, um mergulho vertical em relação ao fundo, o mundo inferior, infernal.
A palavra abismo permite outras conotações igualmente assustadoras: desastre iminente, situação fora de controle, calamidade inevitável. Em nosso caso, o abismo é o ponto de chegada de uma sociedade que perdeu a alma.
Desde que a organização social passou a ser vista como simples epifenômeno dos dados econômicos, desde que o dinheiro, a posse e o lucro, e não o homem, se tornam a medida de todas as coisas, logo se percebem os reflexos na estrutura da família, nas relações de trabalho, nos objetivos pessoais.
Não precisamos de estatísticas, bastam os cinco sentidos, para avaliar que chegamos ao ponto de não retorno. O desequilíbrio ambiental e o caos social o confirmam. O Estado se mostra incapaz de reger o sistema apoiado apenas em números e teorias econômicas. Isto quer dizer que teremos, aqui e ali, pequenos e médios apocalipses, antes de algum apocalipse planetário.
Esta é visão humana. A visão do homem material, homem “carnal”, diria o apóstolo Paulo. Neste panorama, o homem conta apenas com suas próprias forças… e suas próprias fraquezas… E não existe saída.
Mas a palavra abismo pode ser invertida. Pode apontar para o alto. Como escreveu o salmista, “abyssus abyssum invocat”, o abismo chama pelo abismo, Sl 42,7. Muito maior que o abismo humano é o abismo divino, o abismo da divina misericórdia. Mesmo ignorado pelo filósofo positivista, um Criador subsiste nas entranhas do Cosmo – para não dizer que é o Cosmo a subsistir nas entranhas de seu Criador. E o Criador ama sua Criação. Não ficará inerte diante de sua destruição.
Aqui está a segurança que somente a fé pode oferecer à humanidade sem rumo. Existe um abismo de amor cuja potência e dinamismo superam a sífilis do capital, ira do átomo e a fome dos buracos negros.
Estamos perto do fim. E no fim, o Amor vencerá…