Alguém se lembra deles? Para onde foram os hippies? Onde tocam hoje os guitarristas de Woodstock? Onde pintam os artistas da arte psicodélica? Ninguém sabe…
Eram os anos 60. Os EUA levavam chumbo dos vietcongues. Os pacifistas deixavam crescer as unhas: “Make love, not war!” Nos muros cinzentos, desabrochava o “flower power”.
O garotão enfrentou o avô crítico:
– Agora, eu sou hippie. Quero contestar a sociedade de consumo. Meu objetivo na vida não é ganhar dinheiro. Quero viver longe desses cemitérios urbanos: “meus livros e discos e nada mais”…
O avô torceu o bigodão e retrucou:
– Meu garoto, não é novidade: isso já existe há séculos…
– Como assim?
– Ora, são os monges. Há 1500 anos eles já deram uma banana para o mundo que compra e vende. Comem pouco, trabalham em silêncio, fazem boa música e fogem do caos urbano.
– Igual a nós, os hippies?
– Não. Há uma diferença fundamental na contracultura deles: eles tomam banho e cortam o cabelo…
* * *…
Pois é. Woodstock perdeu-se no passado. Lá se vão 46 anos! As canções de Joan Baez são tão antigas quanto os rabiscos da Pedra de Roseta. Mas os monges permanecem fiéis em sua missão de contestar.
Claro que os hippies não têm culpa. Para contestar o universo capitalista, não basta uma guitarra e uma flor amarela. É preciso ter espírito. Sem uma espiritualidade não se derruba Mamon de seu pedestal. E esse espírito contestador tem um nome: Esperança!
Imerso no silêncio, indiferente ao anúncio do celular “up to date”, o monge olha sobre as montanhas e já vê além das nuvens a aurora que ainda não raiou. Nada o distrai de sua infância interior. Ele sabe que precisa ser um sinal e apontar para a nova Cidade de Deus, onde os homens serão livres para amar, sem o contrapeso de salários e contratos, passeatas e sindicatos, patentes e debêntures.
No Monte Athos, eles são milhares. Os ecos da guerra e a fumaça dos mísseis não interrompem a salmodia dos monges. E antes que alguém os chame de alienados, é sua oração incessante que mantém adormecidas as ogivas atômicas nos silos subterrâneos.
Os hippies já se foram. Os monges permanecem…