Foto: Barrancas
A cena da foto ocorreu em Curitiba, mas se repete em todo o país. Ao anúncio de vagas em novo empreendimento, acorrem milhares de desempregados. A fila se estende como uma lagarta humana, dando voltas pelos quarteirões. Homens e mulheres, jovens e velhos, mães com crianças no colo. É o cartão-postal de uma nação com quase 13 milhões de desempregados.
Em 26 de março, noticia “O Globo”, “cerca de 15 mil pessoas formaram uma fila em busca de uma vaga de trabalho no centro de São Paulo, no Mutirão do Emprego organizado pela Prefeitura e pelo Sindicato dos Comerciários. Estão sendo oferecidos seis mil postos de trabalho em diversos segmentos como telemarketing, operador de caixa e atendente de loja. Pelo menos 30 empresas participam da iniciativa”.
São todos pobres. Rico não entra em fila. Estão juntos, enfileirados, reunidos pela necessidade, essa entidade eminentemente democrática que acompanha a sociedade humana ao longo da história. Entre eles, jovens que não conseguem entrar no mundo do trabalho e idosos que já foram excretados pelo mesmo mundo.
Que será que eles pensam enquanto esperam a fila andar? Alegram-se por aqueles que conseguem a vaga? Ou torcem pelo insucesso do vizinho da frente: menos um? Ao mesmo tempo, outros desempregados veem na fila a oportunidade de ganhar uns trocados: – “Olha a água! Olha a água!”
O homem na fila denuncia o sistema que não lhe permite ganhar o pão da família. A mulher na fila acalenta uma esperança do mesmo jeito que acalentou seus filhos no berço. Eles sabem que estão à margem, mas não perdem a esperança de entrar…
As pessoas na fila deviam ser irmãs, mas são competidoras. O sistema as perverte desta maneira. O sistema joga uns contra os outros, fecha os punhos, fecha as portas, fecha os corações.
Nos centros de decisão, onde são traçadas as políticas econômicas e sociais, o assunto em questão é como ganhar mais dinheiro com o mínimo de empregados. Como fazê-los trabalhar mais, por mais tempo, com o mínimo de gastos e de direitos. Como trocá-los por máquinas, esses funcionários de metal que não fazem greve e se contentam com um pouco de graxa.
Eles continuam na fila. Seis horas ou mais em pé. Muitos chegaram de madrugada para conquistar um lugar à frente. Alguns conseguirão a vaga sonhada. A maioria não atenderá às exigências sempre crescentes. Boa parte acaba desistindo. Os moradores de rua comprovam o fato.
A mesma matéria do jornal constata que “na região metropolitana de São Paulo, 1,7 milhão de pessoas estão desempregadas, segundo a pesquisa de Emprego e Desemprego da Fundação Seade e Dieese. No país, são mais de 12 milhões de desempregados. Ainda de acordo com o Dieese, a taxa de desemprego total na Região Metropolitana de São Paulo subiu de 15,3% em janeiro para 15,5% em fevereiro”.
Os homens na fila do emprego são os mesmos que passaram pela fila dos eleitores. Ninguém se espante se, um dia, eles se cansarem de votar…