Não. Não falo do capeta. Aquele estranho ser que a Sagrada Escritura define como inimigo, pois constantemente ele sugere a infração da lei, semeia joio sobre o trigo e empurra irmão contra irmão.
Falo de gente. Gente de carne e osso. Homens e mulheres como nós, que dedicam tempo, esforço, propaganda e passeatas à tentativa insana de evitar a subsistência da próxima geração.
Pense no trabalho dos cientistas que aprenderam a dominar, mais ou menos…, o átomo como fonte de energia, coisa muito útil para um planeta com limitados recursos energéticos. Mas esses mesmos sábios cientistas não hesitaram em arremessar duas bombas atômicas sobre o Japão, arrasando por completo duas cidades e sua população indefesa.
Pense nos industriais que fabricam defensivos agrícolas, digo, agrotóxicos!, com substâncias que envenenam nascentes, frutos e úteros. Pense nos produtores que usam aviões para pulverizar esses tóxicos, mesmo sabendo que o vento pode levá-los até o lar dos moradores próximos.
Pense na indiferença cruel dos fabricantes de armas, como aquelas minas russas PFM-1 com formato de papagaios verdes, dirigidas diretamente às crianças da África e do Oriente, responsáveis por tantas mortes no Afeganistão.
Pense no industrial que lança resíduos químicos em nossos rios, sem qualquer tratamento prévio para salvaguardar nosso ambiente.
Pense na multidão, sempre crescente, que sai às ruas e praças, desgrenhada e desvairada, com cartazes que reclamam o direito de abortar, ignorando por completo o direito do feto de viver.
Pense nos governantes que suprimem as verbas de programas de assistência social ao mesmo tempo em que liberam as empresas multinacionais dos impostos que deveriam pagar.
Deve ser por isso que o capeta foi visto em uma praia de Cancún, deitado numa toalha felpuda, de óculos ray-ban, gozando de prolongadas férias. Para que se cansar no trabalho, se essa gente já está fazendo o serviço dele?
Enquanto isso, o Papa Francisco tenta acordar a sociedade para o desastre iminente: “A noção de bem comum engloba também as gerações futuras. As crises econômicas internacionais mostraram, de forma atroz, os efeitos nocivos que traz consigo o desconhecimento de um destino comum, do qual não podem ser excluídos aqueles que virão depois de nós. Já não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem uma solidariedade intergeracional. Quando pensamos na situação em que se deixa o planeta às gerações futuras, entramos noutra lógica: a do dom gratuito, que recebemos e comunicamos. Se a terra nos é dada, não podemos pensar apenas a partir dum critério utilitarista de eficiência e produtividade para lucro individual. Não estamos a falar duma atitude opcional, mas duma questão essencial de justiça, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hão de vir”. (Laudato Si, 159)
Agora você já sabe quem é o inimigo da humanidade…
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