No dia 30/11/2012, a imprensa publicava esta nota: “SÃO PAULO – A 7ª Vara da Justiça negou o pedido, feito pelo Ministério Público Federal, de retirar a frase ‘Deus seja louvado’ do papel-moeda nacional.
A decisão levou em consideração a alegação do Banco Central de que a retirada da expressão iria custar R$ 12 milhões aos cofres públicos e gerar intranquilidade na sociedade.
Na decisão, o Juiz entendeu que ‘não se aferiu a existência de oposição aos dizeres inscritos nas cédulas no âmbito do seio social, […] a alegação de afronta à liberdade religiosa não veio acompanhada de dados concretos, colhidos junto à sociedade, que denotassem um incômodo com a expressão ‘Deus’ no papel-moeda’”.
Seja por economia, seja pela paz pública, o Todo-Poderoso continua louvado no papel. Ao menos no papel…
Como pano de fundo, o vezo de cantar louvores ao Estado laico e, por tal motivação, iniciar tentativas de podar as inclinações populares de fundo religioso.
Ora, nas recentes partidas da Copa América de futebol, a TV mostrou os atletas chilenos, perfilados e compenetrados, a cantar religiosamente o seu hino nacional. Se não estou enganado, eles estavam “rezando” estas palavras do poeta Eusebio Lillo:
“Puro Chile, é tu céu azulado,
Puras brisas te cruzam também
E teu campo de flores bordado
é a cópia feliz do Éden.
Majestosa é a branca montanha
Que te deu por baluarte o Senhor,
E esse mar que, tranqüilo, te banha,
Te promete um futuro esplendor.”
Como se vê, a prece foi atendida, pois a seleção chilena foi campeã, derrotando até os argentinos, vice-campeões da última Copa do Mundo (aquela dos 7 X 1)… E ficou bem claro que o Estado chileno, sabidamente laico, não impede seus cidadãos de fazerem recurso aos poderes mais altos.
Outro dia, foi a vez da seleção de vôlei da Sérvia, que também entoou, com alguns olhos marejados de lágrimas, o seu hino nacional – intitulado “Deus da Justiça” – com palavras escritas por Jovan Dordevic em 1872:
“Deus Justo,
Tu que nos salvaste da ruína até agora,
Ouve as nossas vozes
E sê a nossa salvação, agora também.
Com a Tua mão poderosa guia e protege
O barco do futuro da Sérvia. […]
Deus ajude e nos salve,
Assim roga o povo sérvio.”
Esta “oração nacional” tem seu valor acrescido quando se lembra que os sérvios viveram longos anos sob o tacão do Estado soviético, sabidamente ateu e inimigo de todo tipo de culto espiritual.
Já aqui, nesta Terra de Santa Cruz, volta e meia surge algum herói incomodado com os toques dos sinos, a fumaça do incenso e as cruzes na parede, como se estes sinais da devoção popular abalassem os alicerces do Sistema.
O que me lembra uma cena familiar. Pai e filho viam a TV Câmara, que transmitia em tempo real uma sessão legislativa. Naquele dia, os ânimos estavam exaltados e nem mesmo alguns palavrões e insultos escaparam da censura. A criança comentou:
– Papai, que gente sem educação! Eles não respeitam nem o crucifixo na parede…
O pai respondeu:
– Ora, filho, Jesus Cristo não liga, não. Ele já está acostumado… Ele foi crucificado entre dois ladrões.