Meu compadre Zeferim cansou-se da roça e veio para a cidade com armas e bagagens. Ou, como se diz na roça, de mala e cuia. Assim que os móveis e os trastes foram empilhados no apartamento, ofereci-me para mostrar-lhe o bairro, o comércio e tudo o mais.
Tomamos a avenida e saímos pela direita. Na primeira esquina, o Fast Food.
– Que é isso, Carlito?
– É restaurante, compadre. A comida já fica pronta à espera da gente. É só entrar e comer. Você mesmo pega e se serve…
– Não tem garçom?
– Não, é self service.
– Serve-serve?
Vi que o compadre Zeferim continuava confuso, mas ele já estava interessado em outra novidade, lendo no asfalto uma palavra de três letras:
– Bus?
– É o ponto do ônibus, compadre. Aqui na cidade, os ônibus têm esse nome curtinho: bus.
E fomos adiante. Passamos pelo Big Sound, pelo American Bar e pelo Shopping Center. No quarteirão seguinte, mais novidade:
– Pet Shop?
– É a loja de produtos para animais de estimação. E ali na frente está o Wash Car, que já foi lava-jato antes das propinas na Petrobrás. O Pit Stop é a revenda de automóveis. E esta My Bread é a padaria.
Compadre Zeferim estava perdidim, perdidim… Se tivesse baixado no planeta Marte, talvez se sentisse mais em casa.
Fomos em frente. Encontramos a Video Home, o Blockbuster e a Chicken House, com aquela desavergonhada multidão de frangos pelados na assadeira. Atravessamos a avenida e voltamos pelo lado oposto. Na Body Star – Fitness, as moçoilas corriam na esteira, queimando as calorias. Compadre Zeferim queria saber para quê tanta pressa, se elas não saíam do lugar…
Sempre adiante, vimos a Super Micro e a Lan House, com a tropa de adolescentes futicando na Internet. Tentei explicar o que era “navegar”, mas a ausência de velas, mastros e timões acabou confundindo o compadre. Ainda mais que logo topamos com a Drug Life e a Delivery Express. Pela cara do Zeferim, percebi que era hora de rumar para casa, antes que ele pegasse a primeira jardineira de volta para Bom Jardim de Minas.
Nisto, o compadre parou diante de uma placa onde se lia: Casa de Vinhos. Para meu espanto, ele tomou a iniciativa de entrar e foi direto ao balcão.
– Quem é o dono aqui?
Apresentou-se um senhor já de idade, barriga proeminente, bastos bigodes, calça larga e suspensórios.
– Cá estou eu, Manuel Gonçalves, ao seu dispor…
E o compadre comentou:
– Eu fiquei curioso com um troço dessa rua… Todas as lojas têm o nome em inglês. Só esta casa tem o nome brasileiro…
E o patrão, simpático e sorridente, retrucou:
– É que esta casa é uma casa portuguesa, com certeza!
Moral da história: o português é um idioma que se fala em Portugal.