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– Milagre! Milagre!
Não se assustem: é apenas o narrador da TV emocionado com a defesa do goleiro. A palavra “milagre” desgastou-se a tal ponto, que entrou no vocabulário esportivo para designar um esforço atlético.
Mas existem também os “milagres” que povoam a telinha todos os dias – milagres previamente anunciados com hora marcada – e que servem de chamariz para atrair incautos. Amigo meu, morador do bairro Ouro Preto, em Belo Horizonte, falava-me sobre os “milagres” ensaiados na garagem de seu vizinho, pastor de uma igreja pentecostal…
Apesar de tudo, os milagres existem. Resistem às fraudes. E não admira que a Igreja Católica seja tão reticente em relação a milagres, aparições e fenômenos místicos. Vinte séculos de história aconselham a ficar prevenido diante de desequilíbrios mentais, alucinações coletivas e surtos da imaginação popular. São poucos os milagres que resistem a uma análise objetiva.
Lourdes, na França, aponta na direção oposta. Ali os milagres acontecem. Ali eles espantam os doutores e reduzem a poeira os argumentos dos céticos. Estou relendo o livro “O Milagre de Lourdes”, Editora Melhoramentos, São Paulo, s/d. Publicado na década de 50, tem como autora Ruth Cranston, uma jornalista protestante, que foi pessoalmente a Lourdes para examinar in loco as propaladas curas. Seu olhar neutro apenas confirma a autenticidade dos relatos.
Em Lourdes, uma Corporação Médica que reúne profissionais de variadas religiões examina e acompanha os miraculados, utilizando metodologia científica. Uma Comissão Canônica, ainda mais rigorosa e exigente que o grupo de médicos, rejeita a maioria dos casos apresentados como milagres. Isto explica que, desde os tempos de Santa Bernadete, no Séc. XIX, não cheguem a uma centena as curas reconhecidas e autenticadas como milagrosas, ainda que sejam milhares os testemunhos de cura.
A penúltima delas foi o caso de Jean-Pierre Belay, 51 anos, curado instantaneamente de uma esclerose em placas já em estágio avançado, em outubro de 1987. A mais recente foi a cura da Irmã Bernadette Moriau, em 2008, aos 69 anos. Ela sofria de um tipo de estenose espinhal que afetava o conjunto de nervos localizado ao final da medula espinhal. A doença, conhecida como “síndrome da cauda equina”, afetava a irmã Bernadette desde o final dos anos 1960. Sua cura instantânea foi reconhecida como um milagre pelo Bispo de Beauvais, no norte da França. Era o 70° milagre em Lourdes admitido pela Igreja Católica.
Ruth Cranston resume os critérios adotados pela Comissão Canônica para examinar os frequentes casos de pessoas que ali experimentam curas de todos os tipos. Para reconhecer uma cura milagrosa – isto é, inexplicável pelos conhecimentos da medicina -, devem existir sete características:
1) Que a doença era grave e impossível, ou pelo menos difícil, de curar;
2) Que a doença curada não estava em estado de declínio até um ponto tal que poderia ter cessado pouco tempo depois;
3) Que nenhuma medicação foi utilizada, ou se foi, que sua ineficácia era certa;
4) Que a cura foi repentina e instantânea;
5) Que a cura foi perfeita;
6) Que não houve anteriormente uma crise resultante de alguma causa e na sua hora natural; neste caso, não se pode dizer que a cura foi milagrosa, mas natural, inteira ou em parte;
7) Finalmente, que depois da cura não houve nenhuma recaída da doença.
O Dr. Alexis Carrel, conhecido médico francês, narrou no livro “Viagem a Lourdes” a sua experiência pessoal diante do milagre. Cético, intolerante, positivista, perdera há muito a fé da sua infância. Carrel acompanhou uma paciente em viagem de trem a Lourdes. Maria Bailly tinha chagas de tuberculose, lesões dos pulmões e peritonite. Rosto macilento, pulsação 150, abdome distendido, orelhas e unhas azuladas.
Mergulhada na piscina de Lourdes, em questão de minutos desapareceram em definitivo todos os sintomas. Ela bebeu um copo de leite. Seu rosto tornou-se luminoso. Ali estava o milagre que iria transformar a vida do Dr. Carrel. Maria Bailly ingressou na Congregação das Irmãs de S. Vicente de Paulo e dedicou-se aos enfermos.
Vale refletir sobre as palavras de Aleksandr Mien: “O milagre é algo bem maior que uma simples infração da ordem natural das coisas. No milagre, revela-se a natureza mais profunda da criação, uma outra dimensão em que as leis do mundo físico são superadas e reina a liberdade. Quando uma pessoa encontra esta nova dimensão, ‘chegou a ela o Reino de Deus’, segundo as palavras de Cristo”.
Milagres acontecem. Entre outros, o milagre de aceitar as próprias doenças e viver feliz com elas. Coisas que acontecem em Lourdes todos os dias…
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