Houve um tempo – passado e superado – em que os homens da Igreja tentaram imitar o fausto dos reis e dos príncipes, edificando grandes edifícios para o culto a Deus. Foi o tempo de monumentais basílicas e catedrais. No mesmo espírito, surgiram mitras e tiaras, anéis de ouro e castiçais de prata, paramentos de seda e títulos de nobreza.
Esse tempo passou. Em um milênio marcado pela solidão das megalópoles de concreto, onde o vizinho é apenas um número na porta do apartamento, o povo tem sede de convivência, de comunhão. E esta sede não pode ser saciada na multidão anônima, mas em comunidades pequenas e vivas, que permitam a interação e a comunhão.
E ninguém pense que esta realidade afeta tão somente a Igreja Católica. Em matéria do jornal “O Globo”, 21/10/2014, assinada por Barbara Marcolini, Renata Malkes e Thais Lobo, fica evidente o equívoco da edificação de grandes edifícios para a reunião dos fiéis. Com o título “A Igreja Universal e o custo da megalomania”, as repórteres registram que “a religião do bispo Edir Macedo vê seus supertemplos mais vazios”.
Segundo a matéria, “os dados do Censo de 2010 indicam que a população evangélica cresceu de 15,4% para 22,2%, chegando a 42,3 milhões de brasileiros; os números revelam, ainda, que a Universal assistiu a uma retração de 10,8% em seu rebanho, passando de 2.101.884 para 1.873.243 adeptos num período de dez anos”.
Mais abaixo, lê-se: “A desaceleração evidencia um dos pontos fracos da entidade: projetos megalomaníacos dificultam a tarefa de fidelizar adeptos. A IURD é uma reunião de superlativos. Seus templos têm decoração simples, mas exalam imponência pelo tamanho. Normalmente, são construídos para abrigar de muitas centenas a milhares de fiéis. E tanta grandeza tem um preço. Apesar de conseguir atrair as massas, esses megaespaços são pouco acolhedores, dificultam a criação de um senso comunitário. Nessas construções gigantes, não é tão fácil se aproximar, estabelecer elos sociais e produzir amizades que extrapolem os limites do culto”.
Tudo indica que a opção por edifícios monumentais corresponda a um projeto de poder, uma tentativa de autoafirmação em relação à Igreja Católica, e mesmo a outras denominações evangélicas. No entanto, no interior desses palácios religiosos não se reúne uma família de irmãos.
A matéria de “O Globo” informa que “há uma clientela flutuante muito grande por causa da pregação eletrônica. Como são muitas pessoas chegando, você não sabe quem está sentado do seu lado. É comum, por exemplo, quando o pastor convoca as pessoas a irem ao altar, dizer: ‘tragam seus pertences’, porque acontecem muitos furtos. Por um lado, isso dá uma liberdade muito grande a quem chega, mas, por outro, não estabelece vínculos comunitários. É como entrar numa megaloja de departamento em um shopping center. Você entra e o vendedor não vai perguntar se precisa de ajuda”.
A íntegra da reportagem pode ser encontrada em:
http://oglobo.globo.com/brasil/a-igreja-universal-o-custo-da-megalomania-14302329#ixzz3GleaJIlP
Compreende-se o gosto por templos suntuosos em uma denominação que adota a teologia da prosperidade e atribui a miséria dos pobres aos seus pecados. Uma Igreja, porém, que deseje seguir o exemplo de pobreza vivido por Jesus Cristo, certamente não desperdiçará recursos humanos e materiais em edificar templos de aço e concreto.
Quando Francisco ouviu: “Restaura a minha Igreja”, ele também se enganou de início. Mas logo iria compreender que Cristo não lhe falava de São Damião, a igrejinha de pedra e argamassa, mas de uma igreja de corações…