Quando éramos crianças, nós costumávamos brincar de bandido e mocinho. Curiosamente, ninguém queria ser bandido. Éramos todos inspirados pelos “faroestes” americanos, onde o mocinho vestia roupa branca, de chapéu branco sobre um cavalo branco. O importante era ser poderoso.
Crescemos um pouquinho e fomos jogar o “Banco Imobiliário”, aquele joguinho iniciático à vida do capital. Logo aprendemos a trapacear e a jogar fora das regras. O importante era ganhar dinheiro.
Mais crescidinhos, aprendemos a jogar buraco, truco e douradão, onde a esperteza valia mais que as cartas na mão. Com uma boa dose de fingimento e de blefes, saíamos ganhando. O importante era enganar os adversários.
O tempo passa depressa e as crianças chegaram ao governo. Mas continuam dispostas a brincar, mesmo que isto signifique roubar o povo, espoliar as estatais e desviar o pão da boca das crianças. O importante é ser poderoso, ganhar dinheiro e enganar os adversários.
Mas a vida tem surpresas. As recentes prisões de homens ricos, espertos e poderosos parecem marcar uma nova etapa do jogo da vida brasileira. Tenho um amigo muito religioso que explica a nova situação a partir do Evangelho, onde Jesus Cristo teria dito que “não há nada oculto que não venha a ser revelado”. Do “cripto” ao “apocalíptico”, do oculto ao revelado, é só uma questão de delação premiada…
E lá estão elas – as crianças – de terno preto, cartola preta e Lamborghini preto, devidamente fantasiadas de bandido, pois os mocinhos estão em baixa. Ou não estão? No seu elegante terno preto, o juiz Moro assume a função de mocinho nacional e, mesmo contra a correnteza de lama, acena com um lampejo de esperança para toda uma nação cansada de ser passada para trás.
E todos nós que fomos explorados, rapinados e bancamos os bobos durante décadas, começamos a sentir algum prazer com as manchetes dos jornais, quando começam a cair, uma por uma, as peças desse fétido dominó que fez do Brasil o escárnio do planeta.
Vá em frente, juiz Moro! Vá em frente! Mostre a esses jogadores de “rouba-montinho” que chegou a hora de acertarem as contas com a sociedade.
Enquanto lá no céu as três Pessoas da Trindade riem baixinho com o apocalipse, isto é, com a “revelação” de tudo aquilo que esteve oculto até o momento. Porque os bandidos acabam de descobrir que o inferno é aqui mesmo…
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“Não há nada oculto que não venha a ser conhecido. Tudo o que for sussurrado entre quatro paredes será proclamado acima dos telhados” Lucas, 12; 2,3.