Não somos consultados para aceitar a vida. Ela vem como um dom gratuito, mas até certo ponto um dom imposto. Não admira que os adolescentes protestem: «Eu não pedi para nascer!»
Quando se trata, porém, da morte, entra em jogo a nossa aceitação. E nada enobrece tanto a pessoa humana como o exercício dessa aceitação. O exemplo maior é do próprio Jesus Cristo, que abraçou voluntariamente a cruz e a morte como o mais extremo dom de si, para a vida de todos.
Vejo na Internet o anúncio de «Restless», o filme do cineasta americano Gus Van Sant, Palma de Ouro em Cannes, 2002, com «Elephant». Na visão de Arnaud Schwartz, comentarista do jornal «La Croix», uma obra «doce e envolvente, que progride a passos lentos, oferecendo uma bela reflexão sobre a vida, sua beleza, seu milagre, sua brevidade e seu fim inelutável».
O filme aproxima dois jovens. De um lado, um órfão solitário, fugitivo da escola, que se infiltra em funerais de desconhecidos e, à noite, joga batalha naval com o fantasma de um kamikaze japonês que morreu em Pearl Harbor sem ter conhecido o amor. Do outro lado, a mocinha cheia de vida que estuda pássaros e insetos sob o poster de Charles Darwin colado na parede de seu quarto.
Mas a garota descobre um tumor no cérebro e sabe que tem pouco tempo para viver. Sem se lamentar, ela saberá dizer à morte o mesmo «sim» que disse à vida. Ele e ela sofrem para crescer e tornar-se adultos. E só a morte nos leva ao ponto máximo da maturidade. Até lá, somos adolescentes…
Bem… Não é bem verdade que não pedimos para nascer… No momento de nossa fecundação, eram milhões de espermatozoides em desabalada carreira na direção do óvulo materno. Quem chegou na frente e rompeu a fita de chegada foi premiado com a vida. Os perdedores nem chegaram a nascer. Quer dizer, não só «pedimos» para nascer, mas suamos a camisa, e jamais existiríamos sem aquele notável desempenho atlético.
É preciso esforço para viver. Mas é preciso esforço para morrer. Admito exceções: aqueles santos, aquelas estrelas-alfa da humanidade que se apagaram suavemente como quem tira uma soneca após o almoço. Mas não é a regra geral. Quase todos precisam lutar olimpicamente para morrer. Não é por acaso que se fala em «agonia», termo que vem do grego «agon», isto é, combate.
Se a morte é súbita, abrevia-se a luta. Se a morte é anunciada, aí, sim, veremos nossa capacidade atlética… Penso no presidiário que está no corredor da morte. Ele sabe que a qualquer momento (e isso pode durar anos!) virão buscá-lo. Penso em Viktor Frankl, no campo de concentração nazista, tomando notas para seu próximo livro (haverá tempo?). Penso na enfermeira de cujo câncer os médicos já desistiram…
Como viverão a próxima semana, o próximo dia, os próximos minutos? Levarão em conta que morrer é, em resumo, mergulhar nas mãos amorosas de um Deus que é Pai?