A pátria laica

Foto: Nós no mundo

Semana passada, em Brasília, ocorreu o esperado lançamento do novo partido, o PPL – Partido pela Pátria Laica. Na ocasião, seu líder, o deputado Athenágoras Falcão, conhecido anticlerical, declarou da tribuna, logo ao lado do crucifixo:

– “Subo a este púlpito para cumprir o dever sagrado de anunciar a todos a nossa missão universal: levar ao povo brasileiro uma catequese permanente que culmine com a ressurreição de nossa pátria, como Lázaro saindo de seu túmulo. O próximo pleito será nosso batismo de fogo, quando os fiéis eleitores irão sacramentar nosso credo político e nos cobrir com sua bênção. O comparecimento às urnas será uma procissão iluminada pelos círios da democracia, sob o pálio da autodeterminação. Cada urna será como um altar, onde celebraremos a missa da liberdade.”

Naturalmente, findo o sermão, choveram aplausos de todos os cantos do plenário, sem excluir os setores jacobinos, os maoístas e a bancada da bala. Na saída, um repórter da Rede Vida perguntou a Falcão se o programa do partido não ia contra as raízes religiosas do povo brasileiro. O deputado, ex-aluno dos jesuítas, respondeu de mãos postas:

– “Já vêm vocês com a velha ladainha! Vocês da mídia deviam bater no peito e fazer penitência pelos pecados cometidos ao misturar religião e política. Nossa Bíblia é a Constituição, o regimento interno é nosso Evangelho. Logo vocês compreenderão nossa voz profética e acabarão de turíbulo em punho, incensando louvores ao nosso partido. Cada um de nossos projetos será um exorcismo contra os demônios do fideísmo. Quero ver como a Imprensa vai reagir ao se ver entre a cruz e a caldeirinha…”

– “Mas, deputado… Várias entidades de classe já se manifestaram em defesa das manifestações religiosas…”

– “Meu dileto discípulo, parece que você quer ensinar o padre-nosso ao vigário, mas é um sacripanta que não sabe da missa a metade. Nós ficaremos firmes diante das perseguições; se necessário, chegaremos ao martírio, mas jamais iremos apostatar de nossos dogmas!”

Diante do silêncio geral, Falcão abriu os braços em cruz e clamou:

– “Quem não gostar, que vá reclamar pro bispo! O Brasil há de ser uma nação absolutamente laica. Esta será a nossa consagração final!”

Um jornal diário de São Paulo estampou, hoje, uma charge onde o deputado Athenágoras Falcão aparece com uma mitra na cabeça e um báculo na mão. À sua volta, um grupo de partidários grita aos céus: – Amém!