A mão na boca

Se minha mãe fosse viva, estaria repetindo a frase de sempre:

– Tira a mão da boca, menino!

Não para mim, é claro, mas para os jogadores de futebol e os senhores congressistas.

A moda do momento – vê-se na televisão diariamente – é falar com a mão na boca. Dizem que é para impedir a leitura labial. Ora, se não é para entender, por que é que abrem a boca?

– É que não convém que suas palavras venham a público – explica-me um amigo entendido em linguagens e semânticas.

Será mesmo? Seriam segredos? Serão absurdos? E que eventuais segredos teriam os jogadores do Flamengo, a ponto de cobrirem os lábios com a mão suada no encerramento da partida? Que absurdos perpetrariam deputados e senadores em plena mesa do Congresso, obrigando-os a velar o aparelho fonador?

Lá na velha Palestina, o antigo Mestre ditava:

– Seja o vosso falar: sim, sim; não, não.

E acrescentava:

– Não há nada oculto que não venha a ser revelado.

Claro que o Mestre não pensava apenas nas propinas da “Lava-jato” nem nos cambalachos palacianos. Ele devia ter em mente a beleza da virtude, o brilho da verdade, as auroras da transparência.

E por falar nisso, os governantes vivem exaltando a necessidade de transparência mas, na hora de falar aos vizinhos, cobrem a dentadura com a mão nada transparente… Não é uma bruta contradição?

Pois é, os craques da bola e os pernas-de-pau do Congresso deviam se mancar… Não percebem que sua mão anuncia aos quatro ventos que eles vivem em clima de falsidade, simulando uma aparência externa que não condiz com seu interior?

Caro leitor, você confiaria em alguém que fala com a boca coberta, usando a mão direita como máscara para suas verdadeiras intenções? Eu, não…
Antigamente, se alguém cobrisse a boca com a mão, denunciaria seu desagradável mau hálito. Hoje, parece que há outras coisas cheirando mal na Terra de Santa Cruz. Será que logo seremos obrigados a cobrir o nariz com a mão?

Ó bocas! Ó mãos! – diria Catão…