Não, não me refiro aos ousados atletas de circo, que arriscam sua vida em piruetas mortais, em notável ato de fé em suas habilidades, para espanto e admiração dos espectadores. Estou pensando em outros trapezistas…
No grego do Novo Testamento, a palavra “trapeza” designa ao mesmo tempo a “mesa” e o “homem da mesa”, isto é, o banqueiro da época. Em plena praça, ele fazia o câmbio de moedas, emprestava dinheiro e – já naquele tempo! – aceitava investimentos de terceiros para novos empréstimos e operações de câmbio.
Entre os séculos IV e I a.C., no ambiente da sociedade helenista, cabia especialmente aos templos religiosos exercer as funções bancárias, pois em seu tesouro acumulavam-se notáveis depósitos realizados pelos fiéis desejosos de receber as bênçãos e as graças da divindade local. Junto ao templo de Diana, em Éfeso (hoje, Turquia), havia até um sindicato de artesãos que fabricavam miniaturas do templo e obtinham polpudos lucros com o seu comércio.
Assim, fica bem evidente o nexo – e o contágio! – entre fé e acumulação de dinheiro. Se em nossos dias, conforme deixa ver a TV, persiste um ativo grupo de trapezistas, digo, de banqueiros, a subtrair moedas de fiéis inocentes, ninguém deveria fazer cara de espanto.
O que deveria causar espanto, isto sim, é a existência de santos que – exatamente por sua fé em Cristo! – optaram por uma vida de pobreza e sobriedade. Vale lembrar Francisco, o “poverello” de Assis, que abriu mão da herança paterna. Ou o nobre Charles de Foucauld, que vendeu seus bens e se recolheu ao deserto marroquino, para gastar seus dias no silêncio e na presença do Criador, Aquele que inventou a fórmula do ouro e da prata…
Admiremos também os homens e mulheres, como Damião de Veuster e Madre Teresa de Calcutá, que deixaram tudo para cuidar dos pobres, aqueles que não têm moedas para depositar no Templo, mas são – eles mesmos – templos de Deus. Estes santos intuíram que os bens eternos valem mais e decidiram apostar tudo nesse estranho comércio do amor.
Enquanto isso, deixem os trapezistas espertos a iludir a multidão. As moedas que eles acumulam ou transformam em impérios da mídia e da fé, acabarão roídas pela ferrugem do tempo. Não há rede de segurança que possa salvá-los do desastre final…