A maioria das pessoas tem medo da morte. Não gostam de falar no assunto, de pensar sobre isto. Preferimos viver como se fossemos eternos. Não me lembre que eu vou morrer porque não sei o que fazer com o meu medo. Mesmo aqueles que tem fé numa continuidade, quase sempre é uma fé opaca, trêmula. A morte choca, desorienta, assusta. Sumiu alguém que eu amava. Não adianta procurá-lo, ele desapareceu. É estranho. O suicídio choca em dose dupla. Alguém escolheu morrer. Tem pessoas que preferem acreditar que todo suicida estava fora de si no momento do suicídio, meio louco ou louco inteiro. Há casos assim: as pessoas com graves transtornos mentais podem suicidar num momento de delírio. Ou então pessoas fortemente alcoolizadas ou drogadas às vezes se matam num estado de lucidez reduzida.
Mas há suicidas perfeitamente lúcidos. Planejam cuidadosamente, deixam seus negócios em dia, escrevem cartas, dissimulam suas intenções com grande habilidade. Escolhem morrer. Não são doentes mentais, são seres humanos como nós. O suicida perdeu a esperança na vida e a colocou na morte. Tem fé na morte. Acredita que a morte ou vai ser o fim total e absoluto de seu ser ou então que num outro mundo vai estar livre de seus sofrimentos e frustrações. Há pessoas que namoram a idéia de suicídio. Vivem com ela como uma saída de emergência, a ser usada em caso de necessidade. Outros, profundamente deprimidos ficam fantasiando se matar.
Na minha profissão quando percebo em alguém claras idéias de suicídio eu lhe pergunto: quem te garante que a morte é o que você imagina? E se não for? E se não te proporcionar o alívio com o qual você sonha? Você opta pelo desconhecido baseado numa fé ingênua de que vai ser o fim dos teus sofrimentos. Você pode estar totalmente equivocado. Podemos às vezes evitar que alguém se suicide dando amor, dinheiro, ajuda para sair de suas dificuldades, ajudando-o a perceber saídas, novos caminhos para a sua vida.
O impulso que leva alguém ao suicídio mora em cada um de nós. Quando vivemos desejando a morte, quando paramos de tentar construir uma vida melhor, quando nos tornamos, por longos períodos, amargos, apáticos e desanimados estamos irradiando energias suicidas. Há suicidas vivos que nunca vão se matar. São mortos vivos. Vivem sem esperança, sem alegria, sem coragem. É esta energia que o suicida usa para se matar. Pessoas assim são cúmplices inconscientes do suicida. É preciso despertar. O sono doce amargo da depressão entorpece, anestesia. O fogo da vida está em nós. É preciso chegar até ele. Vale a pena. É bom. Dá calor e alegria.