Laços afetivos intensos se formam entre pais e filhos. O modo como uma criança necessita de seus pais é diferente daquele do adolescente. Na vida adulta um outro tipo de vínculo se torna possível. Tanto pais quanto filhos às vezes têm dificuldades em fazer a transição de uma etapa para a outra. Num certo sentido nós temos que aprender a deixar de ser filhos. Se isto não acontece estamos emocionalmente doentes. Se a relação entre pais e filhos, após uma certa idade, não se torna a relação entre duas pessoas independentes e adultas, algo vai mal. Encontramos filhos adultos que se relacionam com seus pais como parasitas perpétuos. Sempre sugando, sempre pedindo, exigindo, reclamando, querendo receber mais e mais. Aquilo que foi normal e correto na infância quando se prolonga na vida adulta se torna doentio, mesquinho.
O filho, quando criança, adolescente, necessita emocionalmente de seus pais. Costumamos dizer que ele ama seus pais. Na realidade só podemos ter clareza se alguém nos ama verdadeiramente quando esta pessoa não depende de nós, não precisa. Aí sim podemos ver se ela aprecia a nossa companhia, ou mesmo se ela é capaz de generosidade e preocupação genuína com nosso bem estar. E é uma dura realidade constatar, às vezes, que o filho adulto não ama seus pais, apenas necessita ou usa, tira proveito.
Por outro lado há pais que não querem que seus filhos se tornem adultos. Querem ser obedecidos como se os filhos fossem ainda crianças. Querem impor seus valores morais, religião. Querem escolher quem o filho ou a filha vai namorar, querem que o filho siga determinada profissão. Os pais também, a partir de uma certa idade de seus filhos, precisam aprender a deixar de ser pais. Se a relação não se transforma gradualmente numa amizade, ou os filhos vão evitar a companhia dos pais ou então os filhos vão adoecer emocionalmente. Eternas crianças dependentes. Adultos no tamanho, seres humanos atrofiados.
Para que os pais consigam dar este passo, ou seja, aprenderem a deixar de ser pais, é fundamental que cultivem uma vida própria, que tenham outros interesses na vida além daquele de ser pai e mãe. Assim, quando chegar a idade de “aposentar” da função de pais, sua vida não estará vazia, pois terão outros interesses nutritivos, outras alegrias.
Comentários
Boa tarde,
Achei a matéria bem interessante e achei essa situação igual a uma pessoa próxima que eu conheço. Na verdade é meu namorado, ele tem 36 anos e ainda mora com os pais. A relação dele com a mãe é obsessiva tanto que ele deixa de sair comigo para fazer as coisas para ela. E digo que não é ciúmes ou implicância, mas ela abusa e não quer que o filho saia de casa de jeito nenhum. Ele sabe que tem essa relação com a mãe, faz até terapia e tudo, mas não consegue progredir e isso está abalando o nosso relacionamento, pois ele faz tudo o que ela quer. Daqui a pouco ela vai controlar nossa vida. Ele precisa de ajuda urgente, senão não vou suportar mais essa situação.
Obrigada por ouvir meu desabafo.
Camilla
A pergunta a ser feita é: Ele quer mudar ? Talvez ele queira manter as duas mais ou menos satisfeitas, nutrindo-se de ambas. Será que ele vai mudar ? Nós nos revelamos não através de nossas palavras mas através de nossas condutas. Observe como ele age e opte por ficar com ele com base nisto, não no que ele diz que fará. Não considere que esta situação é culpa dela, com 36 anos ele é cúmplice, faz porque quer. Não é nenhuma criança indefesa e sem opção. Conheço pessoas cujo laço com o pai ou a mãe é mais forte do que o laço no casamento. Opção pessoal…
Bom dia. Estava lendo a matéria “Pais e Filhos” publicada por Carlos Bittencourt Almeida em “Psicologia” e me identifiquei, entretanto tem alguns pontos que não consigo esclarecimento diante das matérias entre pais e filhos. Talvez vocês teriam algo ou alguém para poder me ajudar.
Realmente, conforme a matéria, a família é o circulo de pais e filhos e que crescem com o tempo e a transição de etapas é necessário. Ocorre que meu pai sempre foi um homem autoritário e exigente, até os meus 21 anos eu sempre o obedeci, porém depois disso comecei a trabalhar e tentar ser independente, entretanto, ele não satisfeito vem sendo rebelde e tirando todos os amparos familiares. Hoje tenho 29 anos e isso ainda não mudou. De 5 anos para cá tenho uma dificuldade imensa de sair de casa, um “medo” me amedronta – separação familiar, namoro, como agir? Ainda não tenho estabilidade financeira, há 2 anos estou pagando um apartamento junto com o namorado, pensando no futuro, mas o cerco está se fechando… meu pai não quer morar no mesmo lugar que me colocou para morar (mas tb não me explicou as atitudes tomadas), está se afastando de uma forma bruta, quando vem só reclama, briga, eu não sei como agir. Vejo que nesse tempo todo está ocorrendo o que foi falado no texto, não estamos conseguindo fazer essa transição. Tudo muito difícil e confuso, se alguém puder me ajudar agradeço.
Obrigada.
Fabiana
Existem pais que não desejam filhos independentes. Você pode estar sendo punida porque já não obedece. Existem pais que desenvolvem em relação às filhas um apego e sentimento de posse que tem algo de erótico. Não suportam a idéia de vê-la ou de saber que ela tem um envolvimento erótico com o namorado.Em verdade só nos tornamos independentes em relação a nossos pais mediante a independência financeira, e isto às vezes demora. Espero que teu namorado seja a melhor pessoa do mundo e que de fato te ame e queira o teu bem. Cuidado para não escolher, inconscientemente, alguém parecido com teu pai, como namorado. Este tipo de escolha não é raro, mesmo quando a relação com o pai é ruim. Não fuja para o casamento, como uma forma de ficar livre de teu pai. O ideal é casar-se quando tiver um mínimo de independência financeira, de modo que se o casamento não der certo, seja possível recomeçar. Existem pais e mães que ficam furiosos se um dos filhos termina um casamento e volta a depender dos pais. Acolhem, ajudam, mas humilham frequentemente. Pode acontecer que os pais desprezem seus filhos adultos, por falarem em independência, por serem ‘desobedientes’, e no entanto continuarem a depender deles financeiramente. Acho provável que tua relação com teu pai possa melhorar o dia em que você não tiver a menor dependência econômica dele e que, mesmo assim, você esteja feliz. O teu sucesso, a tua felicidade mais ou menos estável pode ser talvez o que o teu pai espera para voltar a te respeitar e talvez demonstrar algum afeto. Pode ser que ele pense: “Você diz que é independente, não me obedece mais, não segue meus conselhos, despreza a minha sabedoria de vida, no entanto depende de mim. A tua falsa independência me irrita”. Pode ser que teu pai não queira mais morar com você exatamente por isto. Fica irritado pelo teu desprezo – tua desobediência – e quer ficar longe porque se sente humilhado. Ao mesmo tempo te despreza porque você desobedece, mas não é independente. Tem pais que reagem à independência dos filhos como outros reagem ao término de um casamento. ‘Já que você me abandonou, vire-se, não conte comigo’. Não quer dizer que teu pai não tenha afeto por você, mas existem pessoas que ‘amam’ de um modo muito egoísta e possessivo.
Estou querendo ler o que os psicólogos falam da Geração Y. Quais são suas características, seus problemas, seu futuro?