Toda relação de casal de longa duração dá oportunidade para que aconteçam atritos, discussões, brigas. Existem atritos que podem ser produtivos. Através deles podemos saber com mais clareza como nosso par se sente a respeito de nossos atos e omissões. Tudo depende da capacidade do casal de ir além do momento de raiva, da explosão, e conseguir dialogar, conseguir compreensão mútua.
É freqüente porém que um casal se atrite sem que nada de produtivo resulte. Queixas, ofensas e agressões que se repetem, sobre os mesmos temas, às vezes por anos. Queremos que nosso par modifique seu comportamento e tentamos conseguir isso pela violência, mesmo que seja apenas verbal. Via de regra o que se consegue por esse caminho é que, ao invés da relação melhorar, crescer, ela degenera, desenvolve zonas cada vez maiores de apodrecimento. Ao invés da alegria de viver juntos, passamos a alternar alguns bons momentos com outros de frieza e outros ainda de destrutividade. A relação vai ficando envenenada.
Quando vivemos com alguém é natural desejarmos que a pessoa mude. Que seja capaz de atender melhor os nossos desejos. Freqüentemente queremos que nosso par se modifique, mas não damos o exemplo. É o outro que deve mudar, não eu. É o outro que está errado. Acontece que se nós não somos capazes de mudar, que moral nós temos para exigir que o outro mude?
É preciso ter clareza que o nosso poder de autotransformação não é grande. Mesmo quem se esforça, muda lentamente ao longo dos anos. Podemos convidar quem está conosco a se modificar. Conversar, argumentar, pedir com carinho. Se não adianta é preciso aprender a calar-se. Agredir não adianta, nem fazer barulho. Calar-se significa perguntar-se: eu quero ficar com essa pessoa do jeito que ela é? Se eu quero tenho que aprender a suportar, a conviver com o que eu não gosto. Adaptar-se, aprender a valorizar o que a relação tem de bom, sem ressentimento, sem amargura, sem culpar o outro. Afinal estamos com ele porque queremos. E se concluímos que não dá mais, preparar-se para ir embora, sabendo que a culpa pela separação é tanto minha quanto do outro. Foi um erro de escolha. Achei que seria feliz com essa pessoa. Achei errado. Agora é ir adiante em busca do que eu quero, procurando escolher com mais atenção, mais discernimento.
Às vezes aquele que briga, queixa, reclama, acusa, não quer separar-se de jeito nenhum. Mas de tanto ouvir reclamação o outro pode se cansar e querer ir embora. É preciso medir conseqüências e saber que para manter alguém interessado em nós, é preciso fazer-se atraente, agradável, interessante. Uma pessoa freqüentemente emburrada, queixosa, acusativa, por mais que diga que nos ama, que não quer se separar, não é atraente. Expulsa, mais cedo ou mais tarde, quem estiver junto com ela.
Comentários
Pergunta ao autor:
Carlos, você acredita em evolução?
Você acredita que uma das finalidades de nossa vida é a evolução?
Caso você concorde, como é que você se mostra tão cético sobre a possibilidade da autotransformação?
Até que ponto e com qual dificuldade as pessoas podem mudar para melhor?
Todos nós não buscamos isso permanentemente?
Agradeço ao autor pelas dicas. Agora sei que não devo tentar mudar meu namorado, senão a corda acaba arrebentando.