Amor, diálogo, comunhão

Publicado por Carlos Bitencourt Almeida 19 de fevereiro de 2022

Amor, diálogo, comunhão

Talvez dentre outros, existem dois modos de encontro humano nos quais estamos intensamente presentes, somos verdadeiros e dentro dos quais estamos de fato conectados, em relação íntima e profunda uns com os outros. Posso ser um psicólogo, médico ou simplesmente alguém que uma pessoa procurou para receber ajuda, para desabafar. Não quer dizer que necessariamente existe uma relação pessoal minha com esta pessoa. Posso ser apenas o profissional que está a atendê-la. Mas consigo ouvi-la, consigo recebê-la em mim, consigo perceber o mundo onde ela vive, seus sentimentos, valores, dúvidas, sofrimentos, desejos, esperanças. Sou empático e pouco a pouco comunico esta compreensão, este acolhimento, a ela. Pode ser que ela se sinta de fato acolhida, compreendida, amada. Como um descanso da solidão. Alguém está me ouvindo. Ajuda-me a me compreender melhor, ajuda-me a ver um caminho para fora de minha confusão, sofrimento, dúvida.

Houve uma conexão. Conseguimos por algum tempo estar juntos. Caminhamos unidos numa grande intimidade. Há um alívio, alegria, o sentimento e sensação de ter sido nutrido. Um descanso e uma esperança renovada. Vejo novos caminhos para compreender a mim mesmo, vejo novas possibilidades para minha vida pessoal, profissional.

Num segundo tipo de encontro a interação é  recíproca de um modo mais amplo. Eu percebo e interajo com empatia ao mundo do outro e ele também faz o mesmo comigo. São relações até certo ponto mais igualitárias, equilibradas. Cada um se sente visto, percebido, compreendido, amado.  Há um ir e vir de amor, compreensão, empatia.

É mais comum que este tipo de interação aconteça entre amigos, entre namorados, entre pessoas que já se conhecem há algum tempo. Mas não depende do tempo de convivência. Posso conviver intimamente com alguém por muito tempo, na amizade ou no amor e de fato não conseguir percebê-lo, compreendê-lo, ver de fato quem ele é, o que quer, sente, é capaz. Anos de convivência podem não gerar esta percepção. Depende da clareza de entendimento e da capacidade de amar de cada um dos participantes.

E não precisa ser necessariamente um encontro verbal, rico em conversas. Podemos viver um grande encontro com alguém em atividades que exigem interação e sincronia, dançando juntos, tocando instrumentos musicais, fazendo uma escalada onde um depende do outro, vivenciando uma relação sexual.

O que é importante salientar é que este tipo de encontro, para a maioria de nós, é um evento pouco frequente. Exige grande atenção, um coração aberto e amoroso, uma compreensão ampla e profunda dos processos humanos individuais. Pode acontecer apenas algumas vezes entre amigos que convivem há anos, ou casais que vivem juntos. São momentos de inteireza, de integridade, de plenitude. São marcos de luz intensa dentro da névoa na qual frequentemente vivemos, cada um mais ou menos absorto em si mesmo, pouco aberto para perceber plenamente alguém mais.

Mas são estes momentos que de fato unem duas pessoas, encarnam o que temos de melhor, deixam em nós aquela marca de amor e eternidade com que tanto sonhamos e desejamos, mas que raras vezes acontece.

Comentários
  • Elis Caldeira 1006 dias atrás

    Conexão: quando flui entendimento sem muito ser dito.

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