Veredicto

Publicado por Antonio Ângelo 9 de maio de 2019

Veredicto

Chegando ao burocrata
disse-lhe:
venho provar que estou vivo
Antes, disse-me ele
prove que nasceu

Voltei no dia seguinte
trazendo certidão de nascimento
Mas ainda questionou:
a identidade, tem mais de dez anos
perdeu a validade

Alguns dias depois
lá estava eu com a minha CI
tinindo de nova
Ele a pegou, registrou no processo
foi logo dizendo:
agora, título de eleitor
comprovantes de reservista e endereço
e declaração de imposto de renda…

Não pude ainda certificar minha existência
e não tem como fugir
cabe ao senhor de lentes definir
só a ele, se estou de fato vivo

Mas respiro, falo
até grito
e neste tresloucado mundo
tomo tento do que se passa

Independente de carimbos
assinaturas e resoluções
disto ninguém me afasta:
o muro à frente
o trinar dos pássaros
a lua que daqui a pouco surgirá
em meio às esquadrias da janela
hão de dar-me seu aval

Uma estrela cadente
o tremular do arbusto
a flor que pende do vaso
a moça que atravessa a esquina
o martelar de um sino distante
a formiga sobre a toalha

Respiro ainda, ora!
Sigo em frente, cheio de teimosia
na resiliência de minhas convicções
Pois que o coração palpita
indiferente aos ditames cartoriais
que delongam na tramitação
e que me permitam afinal
receber o carimbo decisivo:
confirmado, está vivo!

Comentários
  • wesley 2018 dias atrás

    Se for quem imagino, está vivinho da silva, e assim continuará a fio nos anos distantes, branca a barba, vinho na taça, e o gado a pastar na lonjura sem fim da fazenda, pelas bandas da Serra da Moeda.

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