disse-lhe:
venho provar que estou vivo
Antes, disse-me ele
prove que nasceu
trazendo certidão de nascimento
Mas ainda questionou:
a identidade, tem mais de dez anos
perdeu a validade
lá estava eu com a minha CI
tinindo de nova
Ele a pegou, registrou no processo
foi logo dizendo:
agora, título de eleitor
comprovantes de reservista e endereço
e declaração de imposto de renda…
e não tem como fugir
cabe ao senhor de lentes definir
só a ele, se estou de fato vivo
até grito
e neste tresloucado mundo
tomo tento do que se passa
assinaturas e resoluções
disto ninguém me afasta:
o muro à frente
o trinar dos pássaros
a lua que daqui a pouco surgirá
em meio às esquadrias da janela
hão de dar-me seu aval
o tremular do arbusto
a flor que pende do vaso
a moça que atravessa a esquina
o martelar de um sino distante
a formiga sobre a toalha
Sigo em frente, cheio de teimosia
na resiliência de minhas convicções
Pois que o coração palpita
indiferente aos ditames cartoriais
que delongam na tramitação
e que me permitam afinal
receber o carimbo decisivo:
confirmado, está vivo!
Comentários
Se for quem imagino, está vivinho da silva, e assim continuará a fio nos anos distantes, branca a barba, vinho na taça, e o gado a pastar na lonjura sem fim da fazenda, pelas bandas da Serra da Moeda.