a russa Svetlana Aleksiévitch transcreve o relato
daquela que trabalhava na enfermaria
onde – no turno da noite – foi ao leito do capitão ferido
que de antemão sabia à morte.
“E então? Em que posso ajudar?”
Ele de repente lhe sorriu – um sorriso luminoso em um rosto esgotado –
e lhe pediu: “Abra o seu avental… Me mostre o seio…
Há muito tempo não vejo minha mulher…”
(nunca antes tinha dado um beijo sequer),
respondeu qualquer coisa e saiu correndo.
Voltou uma hora depois e encontrou-o morto.
se ao retornar, cheia de compaixão,
a mulher, vencendo todo pudor,
teria decidido atender ao derradeiro anseio.
quem sabe veria de novo o sorriso na face
e até mesmo teria sido possível – ainda que por minutos –
dar-lhe um pouco mais de vida.
Comentários
“será que temos esse tempo pra perder? a vida não para, a vida é tão rara”
Fui levada pelo seu texto à canção do Lenine.
A gente só tem que lhe agradecer.