Em meio ao caos
Vemos quando –
No canteiro da grande avenida –
Posa para fotos
O furor dos veículos
Gás carbônico, odores, buzinas, sirenes
No sinal à frente, em tempo medido
Transeuntes entrecruzam-se nas faixas
Faz poses, expressões, bocas
Puxa o cabelo para frente
Dobra a perna, a coxa à mostra
O fotógrafo explorando ângulos
Imagem incomum no turbilhão da urbe
Parece a visão do inimaginável
Sereia exilada de um mar
Que não se adivinha além
Inesperados sinais de madureza
Um olhar em que se pode perceber
Experiência de degredos – enquanto os braços
Se elevam no ar esfumaçado
Como esculturas contra os edifícios
Um rapaz, na moto, estaciona próximo
E fica a observar a encenação
O trânsito complica-se
Tantos que se põem a admirar a performance
Naquele teatro de improviso
Ela pula na garupa do motoqueiro
E lá se vão, Marília e Dirceu
Ziguezagueando em meio ao tráfego
Enquanto a tarde projeta dardos rubros
A perfurar o casulo de poluição
Que envolve e sufoca a metrópole
Comentários
Meu caro AA, que maestria! Você não precisa de anjos a sussurrar poemas no ouvido, já os leva consigo. E fotografa como ninguém a paisagem descrita no poema, que vemos com nitidez e profundidade. Ergo sum.