olhe pela janela
na parede do prédio ao lado
descubra manchas amorfas
figurações
um rosto de velho
um borrão
ilegíveis pichações
abaixo no pátio
mendiga curvada sobre o lixo
seguida por um cão
para o espelho
os vincos em torno à boca
cabelos encanecidos
para os pés
os disformes joelhos
que há muito não se dobram
ante o deus esfacelado
em direção qualquer na avenida deserta
ultrapasse as transversais
desconheça os sinais
sempre em frente
até que numa esquina
sob a marquise
a estática mulher o convide
para suscitar gozos
em suspeita pensão
onde num quarto mal iluminado
entre paroxismos
espasmos e secreções
o desastre se prenuncia
orgasmo desembocando
em agonia febre equimoses
asfixia inanição
necrose liquefazendo alvéolos
em pútrida consumpção
Comentários
Mas que danação, AA. Se ficar em casa não é o sossego do crente, tampouco sair de casa parecerá prêmio ao cruzado. Que dilema! Mas que belo poema.
Meu amigo. Que alegria em meio a solidão que vivemos. Solidão sitiada , vai bem fundo do que me resta. Grande abraço fraterno e aos seus
Realismo magico, esgrima de palavras que lampejam fulminantes na metrœpole furtiva