É que, em momentos de ausência,
cometo assassinatos
e vejo no dia seguinte
as manchetes
(mas nelas não me reconheço).
É também que – em minhas vadiagens –
faço coisas terríveis
e ao raiar do sol – mente entorpecida –
não me lembro do que fiz.
Desconheço a minha face
à luz do dia.
Volto à noite
por escuras vielas e
– após sugar meu cachimbo –
como espantalho,
mendigo e traste,
não transijo na busca
da besta que comigo divide
a sua incontornável desdita.
Sei que em espiral descendente
sigo rumo ao abismo.
Mas não há como fugir.
Não tenho pai, não tenho mãe,
e a mão em minha direção,
ao apertar o gatilho,
é a que vai me trazer alivio.
Comentários
Como você está trágico hoje poeta, faço votos que esteja errado.
Prezado Rogério,
vendo a monstruosidade que são as chamadas “cracolandias”, onde nossos jovens e crianças são devorados pela loucura – praticamente entregues à sua própria falta de sorte – não há como não ficar horrorizado. E isto acaba indo pra poesia.
Abraço.
A Angelo