Não falemos da poesia
Como algo efetivamente importante
Que seria necessária
Aos nossos anseios
Sequer ela nos nota
Quando passa absorta
Em noites de plenilúnio
Pela escada que vai ao sótão
Como se não existíssemos
Ela passa
Como se menos que sombras
Habitássemos o éter
…ela passa…
Tripudia de nós, a danada
Quando enfim nos procura
Cobre-se de véus
Nos importuna despótica
Elucubrando sevícias
Às vezes, quando a surpreendemos
Desvenda-se, mostra-se toda, entrega-se
Mas quando a abraçamos
Só aí é que sabemos
Não passa de uma estátua
Fria estátua, persona inerte
Que subverte – e até intimida
A nossa intenção de posse