E o momento não permite
Concomitância de astros
Grito e choro
O ar que falta
A face contra o asfalto
Cenário de Goya
Indiferente
Nem o vento
Que ora sopra
Sabe nos mostrar
Para onde fugir
Vai dar em caos, guerras
Irmãos matando irmãos
Carnificina, estupros
E as mãos que reagiriam
Tentando a sobrevivência
Estão às costas atadas
Sob a truculência daquele joelho
Um gemido desesperado pedindo piedade
A compressão inarredável sobre a traqueia
George Floyd impedido de respirar
Ante a rudeza de quem o sufoca
Entendamos, num esforço tenaz
Destituídos do que supúnhamos
Seria o caminho para a redenção:
Enquanto o harmatão varre o deserto
O que não findar com a batalha
Há de resvalar em penúria, fome e submissão
Sob o olhar cínico dos carrascos
Comentários
Os bons poetas, entre outras coisas, nos ensinam palavras novas. São as pérolas do tesouro, e especial é encontrá-las. Vou ao Aurélio em busca do harmatão. Hei de decifrar essa esfinge.