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Era um beco sem saída, que esbarrava num quintal
cuja frente dava para a rua, na transversal.
Tão logo conseguiu a autorização da Prefeitura,
meu avô não teve dúvidas:
munido de picareta, foi lá e fez o serviço
derrubando de um lado a cerca, do outro o muro,
entremeio, abateu uns tantos pés de milho.
O beco então se abriu em ruazinha acanhada.
Não esperassem dele – meu avô – delicadezas.
Fazendeiro sem fazendas
(aos filhos transferira o que a cada um era devido),
não era de esperar pelo dia seguinte
ou de tergiversar sobre o estabelecido.
Fato consumado, o trajeto se realizou
para facilitar a rotina da família e demais pessoas
que por ali passariam indo a destinos diversos.
De quarteirão único, entre Padre Vilaça e São José,
pisávamos o chão agora de domínio público.
Sim senhor, caminho onde ainda crescia mato,
estuário que nos facilitaria ir ao comércio, à vizinhança,
à missa, à escola ou seja ao que fosse!
Ou apenas buscar amigos e brincadeiras,
atalho aos que prosseguiam para o trabalho.
O vizinho, de quem o pedaço de quintal
fora drasticamente desincorporado,
por um tempo nos olhou arrevesado
e aos que trafegavam desaforadamente
– bárbaros a invadir terreno alheio –
pelo que em décadas fora sua possessão.
Permitido foi a todos por ali transitar
certos de que a fruição da via se consolidara
para que dela nos servíssemos por vontade e escolha
no justo compartilhamento do direito de ir e vir.
(Nota 1: a rua que passou a se chamar João XXIII
bem que poderia – sem nenhum demérito ao Santo Padre –
ao fim e ao cabo se chamar Rua Sinfrônio de Oliveira.
Nota 2: que se reconheça, ex- proprietários, excelentes vizinhos,
logo-logo voltaram às boas com me avô).
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