Eu e você, irmão, vamos lá,
juntos a cavalgar
nestes rincões,
confins dos sertões.
Seguimos entrementes
carregados de veneno,
a nos olharmos de viés
feito duas cascavéis.
Indo assim sem prumo,
não de conchas – antes fosse –
mas de chumbo o colar
que trazemos ao pescoço.
Em volta existe vida?
Resiste vida em volta?
Corvos na curva crocitam
atiçando nossa revolta.
Porque não se aplaca
o instinto que nos conduz
nesta rota insensata
a fim tão absurdo?
Aquela mulher, seus encantos,
cabelos, olhares servis,
seus rituais e espantos,
a fúria de seus quadris…
Filhos do mesmo útero,
resistamos ao desejo
de ter o usufruto
de seus flancos adúlteros.
Num impulso insano,
qual um tigre, no entanto,
do cavalo apeou num pulo
o revólver firme ao punho.
E num desfecho cruel,
um ao outro alheio,
lá estamos – Caim e Abel –
a nos matarmos nos ermos.
Comentários
Antonio Angelo, poeta que vale ouro, também saca pistolas e escreve faroestes caboclos, sempre com a mais genuína verve. Contritos, pedimos a benção.
A gente tem de apreciar essa beleza poética. Dá gosto ler como poesia verso a verso, palavra a palavra que dão um sentido total. Parabéns e obrigado por nos oferecer tão erudito e belo poema