Os irmãos

Publicado por Antonio Ângelo 3 de maio de 2016

Os irmãos


Eu e você, irmão, vamos lá,
juntos a cavalgar
nestes rincões,
confins dos sertões.

Seguimos entrementes
carregados de veneno,
a nos olharmos de viés
feito duas cascavéis.

Indo assim sem prumo,
não de conchas – antes fosse –
mas de chumbo o colar
que trazemos ao pescoço.

Em volta existe vida?
Resiste vida em volta?
Corvos na curva crocitam
atiçando nossa revolta.

Porque não se aplaca
o instinto que nos conduz
nesta rota insensata
a fim tão absurdo?

Aquela mulher, seus encantos,
cabelos, olhares servis,
seus rituais e espantos,
a fúria de seus quadris…

Filhos do mesmo útero,
resistamos ao desejo
de ter o usufruto
de seus flancos adúlteros.

Num impulso insano,
qual um tigre, no entanto,
do cavalo apeou num pulo
o revólver firme ao punho.

E num desfecho cruel,
um ao outro alheio,
lá estamos – Caim e Abel –
a nos matarmos nos ermos.

Comentários
  • Wesley 3126 dias atrás

    Antonio Angelo, poeta que vale ouro, também saca pistolas e escreve faroestes caboclos, sempre com a mais genuína verve. Contritos, pedimos a benção.

  • Verly 3127 dias atrás

    A gente tem de apreciar essa beleza poética. Dá gosto ler como poesia verso a verso, palavra a palavra que dão um sentido total. Parabéns e obrigado por nos oferecer tão erudito e belo poema

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