Naquela tarde modorrenta de sábado
o Filho abandonou rituais, incensos,
a infindável cantilena dos santos,
a solicitude permanente da Mãe
e resolveu ir dar uma volta na terra.
Foi à periferia da grande metrópole
onde se tornou jovem entre jovens,
entrou em bares escuros, botequins,
participou de rodas, bebeu estranhos licores,
ouviu músicas de absurdas letras
e – após uso de substancias alucinógenas –
sucumbiu à insensatez que ali prosperava
e se fez triste.
Foi depois a igrejas – diversas, de várias tendências –
e em todas viu o quanto era seu nome louvado;
ao mesmo tempo, deparou-se com tanta hipocrisia,
tantas falsas promessas e descabidos milagres,
impensadas e levianas interpretações do evangelho,
que era repulsivo ali permanecer.
(A não ser na igreja de seu pai José, àquela hora vazia,
onde os últimos oblíquos raios de sol, através dos vitrais,
tingiam em cores o solo e onde aos querubins permitiu
pequenas artes que o fizeram sorrir).
Já mais tarde, noite adentro,
foi a boates, inferninhos, pontos de encontros
onde jovens exibiam seus corpos cheios de adereços
e tinham a lhes recobrir a derme – só Ele viu –
finas camadas transparentes de descrença
que iria em futuro próximo lhes enevoar os olhos
e levar ao inexorável definhamento dos sonhos.
Voltando ao Pai, nos alvores da madrugada –
que no céu em verdade era um tempo indistinguível –
d’Ele se acercou no intuito de O induzir
ao urgente renascimento do Filho na terra
para uma nova redenção da humanidade.
Mas o Pai, absorto em sua onipresença,
olhava para longe, para horizontes alem de horizontes.
A mão esquerda cofiava a barba
e a direita estendia-se até um indemarcável espaço
onde se ocupava em criar outro universo.