Extrema unção

Publicado por Antonio Ângelo 27 de junho de 2015

extrema unção

Que seja a mesma noite a nos cobrir
Quando definharmos
Definitivamente.

O mesmo varal
No quintal
Onde roupas brancas balouçam.

A escada velha
Que desce até o tanque
Onde se lavava as panelas.

A mesma palavra
A oração mesma
O pelo sinal.

A cerca de bambu
A horta de meu avô
O cachorro dormitando sob o arbusto.

Não haverá velas nem rumores
Apenas, tão somente o espírito do Senhor
Se abaterá como uma chuva fina

Sobre nossas vidas findas.

Comentários
  • MÁRCIO STODUTO DE MELLO – DSP115 – S1 3467 dias atrás

    Esta é uma visão própria de quem fica por mais um momento nesta vida…
    Acredito que a alegria do encontro definitivo com o Senhor nos levará a esquecer de imediato esta experiência breve de vida mortal, porque a nossa vida, afinal de contas, é eterna.

  • Wesley 3469 dias atrás

    Nesse poema de atmosfera melancólica, AA nos leva pelos desvãos da memória e do sonho – a vida é bruma, parece nos dizer. E assim nos guia, anjo promitente, desta para outra vida, aquela que vivemos, a que nos aguarda, serena e peremptoriamente. Para nos ensinar, com a autoridade do poeta, que a ilusão do tempo habita em nós como um relógio andando sempre para trás, rumo ao começo.

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