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Nada do que é meu
Posso eu te dar
Pois o que tenho
A mim não pertence
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Do que possuis
Não me apossarei
Pois o que tens
A ti não pertence
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Mas se algo resta
Que supomos nosso
Bem percebemos
De nós se ausenta
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O que nos sustém
Ante o imenso vácuo
Se ao alcance apenas
Reflexos, miragens?
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O que tenho, desdenhas
Já me destes a senha
Pouco importa ao que venha
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Queres o que não tenho
E tudo o que detenho
Recusas com empenho
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Fechas-me o cenho
Perguntas a que venho
Se te ofereço meus engenhos
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Em paradoxos de Zeno
Escolhas me dás: o veneno
Ou o exílio noutro reino.
Comentários
Espero que outro reino, meu velho. Mas se cuide, caso venha um cálice de veneno. Poemas são para amadores, ao contrário do Brasil.