E agora José?
Não mais és o que fostes
Menos o que serias
E agora
Foi-se o que era sonho
E sonho sequer ficou
Foi-se o canto
A mão que acaricia
O beijo consentido
A palavra pressentida
Foi-se até
A fé
A esperança
As tardes nos longes da fazenda
O barulho da bica no quintal
Homens negociando na sala
Em meio a café, broas
E longas baforadas nos cigarros
De palha
E agora José
Não há mais Carlos
Não há fazendas
Casas entre bananeiras
Primas deixando marcas no lençol
E o retrato na parede
Não passa de manchas amarelecidas
Como Robson Crusoé
Em ilhas imersas
Sabemos agora – não é José? –
Que a poesia é incognoscível
Que Itabira desfeita
Foge entre montanhas arriadas
Levada por rios insalubres
E falsas promessas de riquezas
A poesia até nem se sabe
Se algo dela restou
Se sobrevive ao ímpeto de tsunamis
Do modern way of life
Da indefectível intolerância
Que viceja nos tempos hodiernos
E – afinal – tu, José
Que fugistes para a cidade grande
Que trocastes o carro de boi
Por bondes e o conforto de gabardines
Que não mais beijas a paterna mão estendida
E te desfizestes de qualquer culpa
Que não vais aos confessionários
Revelar cheio de remorsos
Poluções, malcriações e desmandos
Que amastes Joões, amastes Marias
De fato – diga-nos agora José
Uma vez ainda nos convença
E diga-nos sem constrangimentos
Certo é que tu existas?
Comentários
Barbaro!
você marcha, José, para onde?
Nós marchamos, Josés….para onde?