onde fica a lápide sob a qual repousam
meus pai e irmão
frio
ela em roupas escuras
luto que nunca termina
marcas de sofrimentos
vida desabitada de sonhos
desconfio de seu desejo
de enfim desfazer-se
de uma fadiga insolúvel
no entanto
ou supor ser ela a primeira
a ir ao encontro
dos que ali jazem
—
talvez eu
me mate
talvez salte –
pulo olímpico
do último andar
deste prédio
tédio
—
na janela
minha mãe
tem a face
marcada
melancolia
que talvez o filho
mais saiba da tristeza
que ela
em nonagenária existência
—
nota mínima
no canto do jornal:
ao final da tarde
mais uma vítima do acaso
morre atingida
por bala perdida
perdida
mais se perdeu
a vida que se esvaiu
por ser vida não vivida
—
cônscio de minhas derrotas
olho pela janela
o anúncio fluorescente
contra o negrume do céu
um travo amargo na boca
não há como discordar:
a vida é isso aí
—
a vida
o que é a vida?
sem sentido
tanto display
vê se entende
não é uma free way
melhor conformar-se
there is no way
Comentários
Viva, Antonio Angelo, maestro com as palavras! Pelos vidros da sua janela e dos meus óculos, divisamos o inverno que chega, com seus rigores, você com sua mãe, eu com meu pai, ambos com nossas desistências, até a próxima mas não definitiva encruzilhada.