É preciso ter sofrido um tanto
Para ser poeta
Que o visite o medo, o espanto
Ter amado e ter com o amor se esvaído
Ter sido desejado em hora incerta
Ainda quando em seguida se veja traído
Tenha passado sob o caleidoscópio da luz
E submergido em profundas fossas
À sombra de incompreensões e abusos
É preciso ter acreditado em alianças
Mas que de repente intuir possa
O quanto é pueril a esperança
Saiba da justiça, da solidariedade
Pouco depois, num acesso de lucidez
Abstraia-se do que é piedade
O poeta enfim necessita da intrepidez
Que o faça encarar a porfia
Por mais que se perceba indefeso
Ou – ora essa – não carece de jeitos
Apenas necessita ter um barco à deriva
Adernando nas tempestades do peito
Comentários
Generoso. Não há caminhos para voltar. Será sempre o poeta.
TEMPORAL sabes do que falo eu AA
Que beleza!
Incrível como esse poeta sabe colocar cada palavra no lugar certo, de forma a expressar o que sente e que deixa gente encantada e ao mesmo tempo contente.