A minha poesia te permite à noite
sair cheia de glamour pela cidade
atraindo enviesados olhares.
Te permite – a minha poesia –
pintar os olhos levemente estrábicos
que incomodam vorazes pregadores.
É pela poesia que te permito
folgares com os ciúmes que te devoto
e tripudiar do que me acabrunha.
E quando te descobres indecorosa
trazendo escarlates íntimas vestes,
não sei o que faria não fora a poesia.
Vejo-te a sorrir de coisas
que jamais me confidencias…
Silêncios intrusos em nossos escaninhos.
Bebo do copo que me ofertas
e recolho-me ao calabouço onde urdo –
fio a fio – a rede que me sustém.
Comentários
Taí, mais um. Poema enorme assim, só um poeta urdido na cama de varas da melhor poesia pode dar à luz. Tamanha exatidão só poucos podem e muitos poucos se dão ao luxo de talhar na intimidade devastada que é a própria palavra. Poema bom, assinado por um mestre, orgulho da rapaziada.
Fiz a ligação do homem aranha ao poema e ambos estão preso na teia que é o que os sustentam, dá poder e ao mesmo tempo tece os versos onde mostra sentimentos difíceis de expressar pessoalmente.
Parabéns Dr.Angelo!
Paixão e ciúme exacerbados,contemporizados pela poesia.Lapidar.
Li, reli, li novamente. Quase que encantado. “Vejo-te a sorrir de coisas que jamais me confidencias…”
O poema trespassa a alma apaixonada com a aflição do ciúme.
Mais uma vez o poeta andarilho prospecta um brilho no asfalto que ponteia. Um poema maduro, lapidado nos escaninhos repletos de preciosidades, mas que não merecia uma ilustração de um Homem Aranha. Acho que uma imagem do Miró faria mais sentido ao texto.