Que escorre das venezianas
Com sua luz leitosa?
Vejo sobre a mesa de cabeceira a cristalização
Da cínica implacabilidade das horas
Papéis se amontoam ao pé da cama
Ligo a televisão e a monotonia rotineira
Em nada pode me animar
Como livros aos milhares numa biblioteca
As lombadas dispostas para as decifrarmos
Sem que nossos olhos nelas atentem?
Um Garcia Marquez, um Dostoiévski ou Tolstói
Este outro Shakespeare, Madame de Bovary
Um Grande Sertão, Drummond, Oscar Wilde
Fogo Morto, Hemingway, Vidas Secas, Maupassant
E outros vários nos chamam atenção
Mas há a sequencia infindável de volumes
que perpassam ante nossos olhos
Sem que os percebamos
Que substância esta que os compõe como retalhos
Conformando um véu que se estende
Entre a inconsútil atmosfera e as pedras
Entre o elo que une o mar ao navio
Ou o céu à nuvem que navega sobre os campos?
E a incongruência dos atos que desprezam a intenção?
De tal forma que agora projeta-se em outro ponto do quarto
A fina poeira aparece em faixas dançando em seus raios
Penso em levantar-me, fazer a barba, ir ao desjejum
E completar assim o cerimonial
Que – até onde não sei – há de se repetir maquinalmente
Por tantos dias quanto os que me restam cumprir
Comentários
Ah, mas não faltou incluir Wesley Pioest nessa lista aí? Vou ficar de mal.