Na Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo, o ano litúrgico se encerra com a festa de Cristo Rei ou, mais exatamente, a solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. Nem todo mundo fica feliz com esta celebração: alguns chegam a torcer o nariz para o aparente “monarquismo”.
Trata-se de uma festa “moderna”, em termos de História da Igreja, criada pelo Papa Pio XI recentemente em 1925. A intenção de fundo era proclamar o senhorio universal e a realeza de Cristo Senhor.
Ora, os “republicanos” costumam ter ataques de urticária diante de símbolos da monarquia, como o cetro e o trono, coroas e editos régios, pois a proclamação incondicional e ilimitada da liberdade, aquela que inspirou a guilhotina…, range os dentes para a obediência e a submissão. Tudo que represente um cerceamento da “liberdade” individual torna-se objeto de aversão e ódio!, como a figura do pai, Freud, do rei, Voltaire e de Deus, Marx.
Ora, o que espanta é ver esta mesma aversão a Cristo Rei entre o “pessoal da Igreja”, aqui incluídos exegetas e pregadores. Um desses comentaristas chega a afirmar: “Não é uma festa bíblica, há que dizer. Jesus não aparece na Bíblia como um Senhor Glorioso dos povos”. Não é verdade. Basta ler os evangelhos. Em sua entrada em Jerusalém, Jesus de Nazaré tem uma recepção régia, aclamado como “filho de Davi”, o grande rei, Mt 21,9. O próprio Jesus anuncia sua “vinda” gloriosa no fim dos tempos, quando virá em sua GLÓRIA… acompanhado de anjos… sentado em seu TRONO glorioso… para JULGAR as nações, Mt 25,31ss..
Mas o absurdo não para aqui. Em todos os Evangelhos, Jesus fala repetida e longamente sobre o Reino de Deus, p. ex., Mt 13. E o conceito de REINO inclui necessariamente uma Lei, um legislador, um juiz, um rei e seu domínio, seu ministério e seus soldados. Todo reino gira em torno de uma ORDEM, diante da qual se obedece ou, como alternativa, vive-se “fora da lei”. Sem obediência e submissão não há reino. Os rebeldes formam seu próprio grupo e tornam-se guerrilheiros…
A palavra “rei” deriva do latim “rex, regis”, com a raiz REG- que dá origem ao verbo “regere”, cujo sentido básico é o de “endireitar”, “tornar reto”, e que reaparece em várias palavras portuguesas: regra, regular, reger, regência. Ou seja, a presença de um rei põe as coisas debaixo da “regra”. Quem não gosta das coisas direitas e regradas também não vai gostar do rei…
O Livro do Apocalipse elimina qualquer possibilidade de ignorar o Rei Jesus. O sétimo anjo toca sua trombeta e proclama: “O reinado sobre o mundo pertence agora ao nosso Senhor e ao seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”, Ap 11,16. E depois que Miguel derrota o Dragão, uma voz do céu se faz ouvir: “Agora realizou-se a salvação, a força e a REALEZA de nosso Deus e o PODER de seu Cristo”, Ap 12,10.
E então? Vamos trocar Cristo Rei pelo cristo deputado? Ou pelo cristo presidente? Eleito por voto popular?