Passada a Copa do Mundo, é hora de pensar em coisas sérias. Em primeiríssimo plano, as eleições de outubro.
Desta vez, mais que em eleições anteriores, o Brasil corre o risco de se ver rasgado ao meio. As mídias sociais revelam uma crescente polarização alimentada por sentimentos de ódio e a expectativa de revanche. Óbvio, uma sementeira deste tipo não pode dar boa colheita.
A meu ver, o cidadão deve votar com os olhos no futuro, apostando sempre na esperança de um Brasil melhor. Não devo fazer de meu voto uma arma de vingança. Trata-se, acima de tudo, de escolher aquelas pessoas que mais poderão – mesmo em um sistema político degenerado – contribuir para o bem comum e o progresso da sociedade.
O impulso revolucionário pode ser avaliado pela contemplação da História. Aqui e ali, onde surgiram pretensos salvadores da Pátria, o que se viu foi a guerra, a fome, a barbárie. Dois exemplos clássicos são os governos do nazismo germânico e do comunismo soviético.
Recentemente, fui contatado pela Comissão da Verdade do município de Volta Redonda, RJ. Como a cidade era considerada zona de segurança nacional, no governo militar, ali foram cometidos sérios abusos e violações contra os direitos humanos e as liberdades individuais. Por acaso, segundo me informaram, sou o único sobrevivente do grupo que foi preso naquela cidade, por ocasião do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. Daí o interesse em meu depoimento a respeito desses acontecimentos.
Ora, passados quase 46 anos desses lamentáveis eventos – em relação aos quais não alimento nenhum ressentimento -, que poderia eu fazer além de chorar as feridas de meus companheiros de prisão? Não se constrói uma cidade dos homens remoendo as desgraças do passado, mas extraindo da matéria do presente as inspirações para um futuro melhor.
Claro, não se trata de perder a memória, mas de sanar as suas feridas, de modo que elas deixem de envenenar o presente e determinar o que há de vir. Afinal, aqueles que foram presos estavam arriscando suas vidas exatamente pelo futuro de seus filhos, insistindo no direito de participar da edificação do país.
Um de meus colegas de cárcere, o saudoso Prof. Waldyr Amaral Bedê, profundo conhecedor da realidade brasileira, ensinou-me esta atitude de virar a página, olhar para frente e colocar-se em um patamar superior ao nível de seus perseguidores, cujo ódio só pode ser vencido pelo perdão.
Enquanto nossa memória não for curada e regenerada, em vista de um futuro de paz, continuaremos a brincar de bandido e mocinho, enquanto as crianças não têm escolas e os doentes rastejam pelo chão dos hospitais.
É urgente a união de todas as forças nacionais em torno do sonho de um Brasil mais humano, onde a paz e a justiça sejam nosso pão de cada dia. E isto só será atingido com reconciliação e perdão.