A intimidade intimida. Aproximar-se é correr riscos. Ficar à distância é sempre mais seguro do que arriscar um contato…
Não foi sem motivos que tantas vezes tenhamos sentido medo de Deus. Desde os tempos de Júpiter Tonante até o Deus do Sinai, o povo temia e tremia diante das vulcânicas manifestações da divindade. E o ditado latino o confirma: “Procul a Iove, procul a fulmine!” [Longe de Júpiter, longe do raio!] Assim sendo, quanto mais longe, melhor…
Ao longo dos meandros da Bíblia, quando os mensageiros divinos vão ao encontro dos homens, sempre assustados, o diálogo começa habitualmente por uma frase tranquilizadora: “Não temas! Não temais!” Foi assim com o velho Abraão (Gn 15,1). Foi assim com a Virgem de Nazaré (Lc 1,30). Foi assim com os sonolentos pastores de Belém (Lc 2,10).
É curioso como os vocativos que iniciam nossas preces acabam por denunciar nossa intenção de permanecer à distância: Senhor (vocativo dos servos e escravos), Deus (genérico inofensivo), Deus Todo-poderoso (título que mantém o “Tu” divino em território seguro, bem acima das constelações e das nebulosas).
No polo oposto, o Filho encarnado chamava a Deus de “Abbá”, o termo aramaico típico da fala infantil, que traduzimos ordinariamente por Pai, Papai, mas aceitaria alguma versão ainda mais ingênua e intimista: Papi, Painho, Paioco… Coisas da linguagem tatibitate que os meninos mais crescidos fazem questão de evitar para demonstrar sua independência e autonomia…
Os mestres espirituais – com especial destaque para a esperta Teresinha de Lisieux – não se cansaram de nos apontar o caminho da “infância espiritual”, onde não cabe nenhum laivo de jansenismo e a humana miséria é simplesmente afogada no oceano da divina misericórdia… Os pequenos se alegram com essa informação.
Mesmo entre religiosos e membros do clero, tenho percebido as frequentes reações de defesa quando se propõe uma atitude de intimidade com Deus. Salvo melhor juízo, trata-se de uma doença da afetividade, tantas vezes recalcada, quando tememos que a inundação do amor nos roube o controle da própria vida, a começar pelos sentimentos e emoções.
Ora, a Aliança de Deus – a nova e eterna Aliança – com os homens foi finalizada em plena Paixão. Não admira, pois, que o poeta lírico tenha escrito as palavras da letra que cantamos distraidamente em nossas celebrações: “Um Deus apaixonado busca a mim e a ti…”
Quando Deus começa a rondar nossos passos hesitantes, sentimo-nos ameaçados e preferimos fugir. Jonas no deserto, tememos qualquer interação mais íntima, sem títulos e sem máscaras. Isaías no Templo, só a brasa de um serafim chegará a acender uma paixão em nosso interior.
Definitivamente, a intimidade intimida…
Comentários
Muito bem colocado: “quando tememos que a inundação do amor nos roube o controle da própria vida, a começar pelos sentimentos e emoções.”
Quando procuramos ser íntimos de Deus ele nos mostra o seu infinito amor, a sua providência em todas as situações. Mas também nos mostra a nossa dimensão e a necessidade de alterar a rota de nossa vida buscando a submissão incondicional a Ele e a obediência também a Ele. Para obedecer a Deus temos que reconhecer o poder infinito dEle e consequentmente as nossa misérias. Temos que reconhecer que todos os homens são amados e preciosos para Deus. O orgulho, a vaidade, da prepotência, o sentimento de superioridade nos levam a ter pavor de ser íntimo de Deus.
I think it has a lot to do with our ego and how he wants to keep us imprisioned in his own dominion. He wants us to think that we are him; the rational, logical mind. He tricks us into thinking that we are that which thinks, when in reality we are that who feels and the rational, logical brain is merely a tool given to us at birth. So, he will stop at nothing to restrain us from having an intimate contact with the Greater Light, to get in touch with our true Self. And as we all know, fear is one of the greatest tools for the means of controling a person.