Junto aos muros de Heliópolis, salteadores dominam o Egito… Luto e desgraça alimentam as águas do Nilo. Fabricam-se lanças de cobre para mendigar o pão com sangue. Irmão mata irmão. O pai tem no filho um inimigo. Ódio ao Faraó.
Porque eles têm fome…
Tsin-Che-Huang dominou o reino de Tsu e destruiu os castelos dos nobres… Seus inimigos foram atravessados por espetos de madeira. Mas Tsin morreu e a China se levantou. Um incêndio de oito anos queimou o Norte e o Sul.
Porque eles tinham fome…
Às margens do Tibre, escravos foragidos juntam-se em quadrilhas… Espártaco faz tremer o trono do rei. Os cidadãos contratam guarda-costas. Euno ateia fogo à Sicília. Os camponeses fogem para a cidade.
Porque eles têm fome…
Tibério Graco vê os pobres assassinados por terem de pagar os impostos dos ricos… Melhor viver entre os bárbaros que sofrer a injustiça dos poderosos. Os colonos mudam-se em escravos. O pequeno proprietário cede ao peso do latifúndio. Todos clamam por justiça.
Porque eles têm fome…
Os aristocratas da França controlam as grandes propriedades… Os primogênitos vivem de suas heranças. Na mesa do castelo não falta pão. Nem brioches. A extorsão fiscal pesa sobre a burguesia. Os homens do povo erguem pás e picaretas, alfanjes e ancinhos. E a Bastilha cairá por terra.
Porque eles têm fome…
As planícies da Rússia eram adubadas com o sangue dos mujiques… Nas aldeias humildes, prendia-os à terra o grilhão da escravidão. Em São Petersburgo ou na Moskwa imperial, erguiam-se os palácios faustosos. Os bailados de Tchaikowsky enchiam os teatros aristocráticos. Nas prisões siberianas, os conspiradores fediam. A guarda do Czar disparava sobre os trabalhadores.
Porque eles tinham fome…
Um terremoto humano sacode El Salvador… De Ahuachapán até San Miguel, os bisnetos dos Maias carregam suas carabinas. Plantadores de algodão fazem mira nas barricadas. Normalistas sonhadoras dormem nos cumes de Chalchuapa. Os colhedores de café são enterrados na vala comum.
Por que eles têm fome…
Os negros do Harlem erguem o punho fechado…
Os colonos de Ribeirão, em Pernambuco, ouvem o padre italiano…
Os peões da Usina Hidrelétrica de Jirau destroem seus alojamentos…
Por quê?