Na ordem do dia – aliás, “ordem” descabida – a expulsão dos “estrangeiros”. Uma ordem de imigrantes brancos, que dão asas à imaginação e se consideram donos da terra.
Eis algumas das províncias do Canadá: Ontario, Québec., Manitoba e Saskatchewan. Todos eles nomes indígenas.
Eis alguns estados dos EUA: Alabama, Alaska, Arizona, Dakota, Delaware, Idaho, Iowa, Mississipi, Missouri, Nebraska, Ohio, Tennessee. Todos eles nomes indígenas.
Alguns rios da América do Norte: Yukon, Mississipi, Potomac, Arkansas. Alguns lagos: Ontário, Huron, Athabasca, Erie, Tahoe. Todos eles nomes indígenas.
Alguns rios do Brasil: Paraná, Paraíba, Paraguaçu, Araguaia, Xingu, Piraí. Todos eles nomes indígenas.
Algumas cidades do Brasil: Aracaju, Araçatuba, Bauru, Irapuã, Minduri, Ituverava, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Manaus, Botucatu, Itaocara. Todos eles nomes indígenas.
Os nativos chegaram antes dos “brancos”. Marcaram o território com sua cultura e, como legítimos donos, deram nome à terra e às águas.
No caso brasileiro, não chegamos aos excessos lá do Norte. Ao contrário, ser índio passou a ser um valor. Quando o Brasil se tornou uma nação independente do domínio lusitano, manifestou-se em certos círculos da sociedade uma clara antipatia pela herança lusitana (nem sempre justificada).
Na virada do século XIX para o século XX, as crianças brasileiras começaram a receber nomes de cunho indígena em seu registro civil. Alguns exemplos: Ayporê, Aracy, Cauby, Cauê, Guaracy, Juçara, Jupyaçara, Pery, Ubiracy, Ubirajara, Ubiratã, Yandiara, Ypojucã…
Chegou-se ao extremo de várias famílias brasileiras renegarem seu sobrenome de origem portuguesa, adotando títulos de etnias nativas. Por exemplo, as famílias Aymorés, Caiapó, Cairu, Maranhão, Tabajaras, Tapajós, Tupinambás e o curioso sobrenome “Índio do Brasil”. Podemos citar o radialista Paulo Tapajós, a nadadora Joana Maranhão, a pintora Yara Tupinambá, além daquela que virou nome de rua no Rio de Janeiro: Clarice Índio do Brasil.
Em tempo: o Romantismo brasileiro inclui uma vertente “indianista”, que adota personagens indígenas como protagonistas: o Peri de “O Guarani”, o Ubirajara do romance homônimo e Iracema, na pena de José de Alencar.
Claro, o mesmo sentimento de brasilidade não teve a ousadia de superar o ranço escravagista e adotar heróis de traços africanos.
Espero que o nariz empinado do novo feitor estadunidense seja devidamente podado pela repulsa universal…
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