Passa Quatro, MG, outubro de 1913. As Irmãs da Providência de Gap, provenientes da França, abriam as portas da Escola Normal Nossa Senhora Aparecida. E as freiras francesas começaram a acolher as meninas da região, que logo seriam promovidas do lombo do burro para a banqueta do piano. Eu mesmo, 46 anos mais tarde, ouviria deslumbrado uma das normalistas a interpretar, com notável vibração, uma “Polonaise” de Chopin, a “heroica”, em lá bemol maior. Era a Igreja a disseminar as sementes da cultura…
Passa Quatro, 1935. Desembarca do trenzinho fumarento da Rede Mineira de Viação o Padre Jean Baptiste Apetche, da Congregação de Bétharram, também ele proveniente da França, e inicia a construção – monumental para o local e a época – do futuro Colégio São Miguel, aonde os filhos dos fazendeiros chegavam mascando fumo de rolo e logo voltavam solfejando cantochão. Eu mesmo conheci, 24 anos depois, sua bela biblioteca e o notável museu de História Natural. Era a Igreja a injetar vida nova num recanto esquecido do Brasil…
Convivi pessoalmente com vários desses padres franceses (Eduardo Mieya, Émmanuel Calvarin, Michel Callerot), italianos (Andrea Antonini, Dante Angelelli, Lino Ilini, Luigi Gusmeroli), argentinos (Enrique Lasuén, Angel Dauro Diamante), paraguaios (Carlos Morra, César Ojeda), o espanhol José Maria Ruiz, “la baca”, o pioneiro inglês Francis Darley e muitos outros. Todos eles falavam três, quatro idiomas e abriam nossos olhos para o panorama mundial, muito além dos limites da Serra da Mantiqueira. Basta dizer que, no antigo Curso Ginasial (hoje, 7ª e 8ª séries), estudávamos cinco idiomas: português, inglês, francês, latim e grego.
Ora, foi sempre assim. Quando o jesuíta José de Anchieta desembarcou no Brasil, em 1553, aos 19 anos de idade, ele também trazia rica contribuição para os íncolas sul-americanos, então na idade da pedra polida. Ágrafos, nômades, muitos deles antropófagos, às voltas com males endêmicos, como a bouba, a leishmaniose e a malária, nossos indígenas teriam, agora, a oportunidade de conhecer a escola. Foi na escola jesuíta que o antropófago virou violinista. Ali, o batuque se fez orquestra.
Vale a pena recordar as palavras de Fernando de Azevedo, em sua magnífica obra “A Cultura Brasileira”, Ed. Melhoramentos, 1964, 803 páginas, a respeito do trabalho educativo de Anchieta e seus coirmãos: “É nessa obra de educação popular, nos pátios de seus colégios ou nas aldeias de catequese, que os jesuítas assentaram os fundamentos de seu sistema de ensino, e se tem, pois, de procurar o sentido profundo da missão da Companhia, cujo papel na história dos progressos e da instrução no Brasil tinha de ser, em mais de dois séculos, tão principal, e incontestavelmente, superior ao das outras ordens religiosas”.
E ainda: “Atraindo os meninos índios às suas casas ou indo-lhes ao encontro nas aldeias; associando, na mesma comunidade escolar, filhos de nativos e de reinóis – brancos, índios e mestiços – e procurando na educação dos filhos, conquistar e reeducar os pais, os jesuítas não estavam servindo apenas à obra de catequese, mas lançavam as bases da educação popular e, espalhando nas novas gerações a mesma fé, a mesma língua e os mesmos costumes, começavam a forjar, na unidade espiritual, a unidade política de uma mesma pátria”.
Esses missionários estrangeiros ouviram a Palavra do Evangelho e foram por ela transformados. A Palavra-semente gera homens-semente. O mesmo Jesus que semeia palavras também semeia homens e mulheres. Por isso eles vieram ao Brasil. A Igreja é a sementeira de Deus e deve brotar, florir e frutificar até a consumação dos séculos. Sem a ação educativa da Igreja, ainda hoje seríamos todos capiaus e botocudos…
Obrigado, Igreja!
Comentários
Fui aluno do Professor Santini no Colégio Volta Redonda. Aprendi muito.
Depois perdi o contato.
Hoje, décadas depois, a forte saudade me fez entrar na Intenet e tentar encontrá-lo.
Que bom.
Meu mestre continua produtivo, escrevendo, pensando…
En este momento me encuentro almorzando con el Padre Ángel Diamante D auro, que usted menciona y recuerda que conoce su convivencia junto a ustedes y otros sacerdotes. Estaría deseoso de saber cómo es que usted lo conoce a él. ¿Usted estaba en ese tiempo en el seminario menor en Conseisao Turrio Verde? Porque él se recuerda que confesaba a un alumno seminarista llamado Carlos Santini, entre los años 56 al 58.Recuerda muy bien a ese adolecente…
De ser así seria un gusto para el Padre Ángel tener noticias de usted a través mío.
El Padre Ángel reza por usted.
Caro Ruben,
diga al Padre Ángel que yo tengo los mejores recuerdos de él y de los tiempos de Conceição do Rio Verde. En mis ensinos, siempre repito la frásis que él escribió en mi cuaderno de recuerdos: “Es el silencio la patria de los fuertes. Es preciso que el mundo calle para que Dios hable.” Gracias. Santini
Sr. Rubén Masson, lleve esta mensage para el Pe. Ángel Diamante D’Auro, por favor, como haces con las de Santini. Pero antes cierren los ojos a my portuñol. También tengo los más gratos recuerdos de Pe. Ángel, siempre elegante no vestir, en la conduta y en el hablar hasta mismo con nosotros, jóvenes muchas veces a la época (1958-1963)inconsequentes. La tolerancia de él harmonizaba perfectamente con su nombre donde se mezclam el ángel, el diamante y el oro. Yo tuvo con él Pe. Angel en Conceição do Rio Verde y en Belo Horizonte, siempre como un betharramita. Hoy soy aposentado como profesor de la Universidade Federal de Minas Gerais. Mucha paz y salud para usted (Rubén) e my amigo Pe. Ángel. Que Diós los mantenga por mucho tiempo más, con salud y alegria.