Era um magnífico dia de sol. O monge dirigiu-se à caverna do abade e abriu o seu coração.
– Abbá, acho que estou perdendo a fé…
– Por que você diz isso, filho?
– Bem… São todos esses progressos da ciência: a genética, a nanotecnologia, a pesquisa do inconsciente…
– E o que tudo isso tem a ver com a fé?
– Ora, Abbá… Tudo aquilo que considerávamos como milagres estão sendo explicados pelos avanços científicos! Não há mais nada para crer!
O abade aconselhou o discípulo:
– Volte para sua cela e reze bastante. Isso vai passar…
Quando o jovem saiu, o velho monge deu graças a Deus, porque sua fé aumentara com aquele diálogo. Ele acreditava ainda mais no Deus que criara o homem capaz de tantas maravilhas, de dominar a matéria e multiplicar pela ciência os dons da Criação.
No dia seguinte, manhã brumosa e sem sol, o discípulo voltou ao mestre.
– Abbá, hoje estou pior do que ontem. Rezei o dia inteiro, mas a minha descrença só aumenta…
– O que aconteceu, meu jovem? Conte para mim…
– Sabe, mestre, fiquei sabendo de algo impensável… Nosso nobre arquimandrita foi condenado por corrupção. O tribunal descobriu que ele estava desviando o dinheiro do dízimo dos pobres…
– Está bem, filho. Volte para sua cela e trate de rezar ainda mais. Logo isso vai passar…
À saída do discípulo, o abade dobrou os joelhos e, em lágrimas, louvava a Deus e agradecia:
– Obrigado, Senhor, porque minha fé aumentou ainda mais. Como é admirável a vossa misericórdia, que confia vossa Igreja a homens tão miseráveis! E estais sempre pronto a perdoar os arrependidos!
Ao amanhecer do terceiro dia, em meio a feroz tempestade, o velho abade acordou e notou um papel dobrado na entrada da caverna. Ele abriu a folha: era um bilhete do jovem discípulo. O abade leu:
– Perdão, Abbá, mas estou fugindo. De nada adiantou todo o meu esforço… meus jejuns… minhas penitências… Minha fé acabou de vez… Perdão.
O velho monge prostrou-se no solo, o rosto na poeira, e clamava tão alto quanto o vento lá fora:
– Senhor, vós sois maravilhoso! Minha fé cresceu ainda mais! Acabo de descobrir que a fé não é uma conquista do esforço humano, mas um dom gratuito de vosso amor por nós. Jamais me cansarei de agradecer por este dom. Amém.