O incômodo candidato

Publicado por Antonio Carlos Santini 19 de julho de 2021

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IN ILLO TEMPORE, houve eleição na Palestina. Entre os candidatos, surge inesperadamente um aprendiz de carpinteiro que vinha da Galileia. Não estava ligado aos fariseus, nem aos saduceus. Não tinha apoio do cônsul romano, nem da aristocracia judaica.

Mal iniciada a campanha, o Nazareno já levou pancada de todos os lados. A Confederação Nacional da Indústria Hierosolimitana sentiu-se ameaçada e logo emitiu uma nota acusando o candidato de comunista: “Cuidado! Ele vive gritando nas praças: ‘Ai dos ricos!’”

Ao mesmo tempo, a Frente Sindical de Betsaida, que financiava um grupo de guerrilheiros zelotas, mandou distribuir um panfleto, também colado nos postes de Jerusalém: “Não votem nesse alienado: ele mandou guardar a espada na bainha. É contra a revolução!”

O candidato ia de casa em casa e deixava o seu santinho: barba aparada, cabelos longos, olhar de mansidão. Não fazia promessas, mas dizem que andou curando alguns doentes. A Associação Médica de Cesareia instalou uma comissão para avaliar se era um caso de prática ilegal da medicina.

Secretamente, reuniu-se o Supremo Tribunal do Sinédrio para avaliar até que ponto o candidato poderia afetar sua política de boa vizinhança com o Império Romano. Os meritíssimos acharam conveniente esperar pela reação do poviléu.

Gravado quando estava em off, um prelado alemão comentou que a candidatura do Carpinteiro criava dificuldades para o diálogo inter-religioso, em especial com o ISIS e os talibãs, de modo que não seria improvável um aumento nos atentados na Germânia e na Gália.

Enquanto isso, o Conselho Regional das Matronas Pro-Choice organizou uma passeata contra o Galileu porque ele considerava ainda válido o 5º mandamento: “Não matarás!” Na véspera da votação, aconteceu uma ruidosa carreata convocada pela legião LGBTQIA+, que distribuiu imagens pichadas do Nazareno, porque ele havia reafirmado a indissolubilidade do matrimônio.

No noticiário da capital, a imprensa romana não conseguia entender como um candidato podia ser tão impopular. Os conselheiros de César avaliaram que não deviam preocupar-se com o maluco.

No dia da eleição, confesso que tentei votar no Nazareno, mas o nome dele não aparecia na urna eletrônica. Enfim, o presidente eleito foi o Herodes…

 

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