– O cidadão sabe por que foi intimado a esta corregedoria?
– Não faço a menor ideia…
– Bem, conforme as normas estatais, o senhor vai mudar de classe.
– Como assim?
– Vou explicar. Nós já vínhamos observando que o senhor anda gastando mais de 2 litros de água por dia, indo além da cota cidadã.
– É verdade. Com o calor, está difícil seguir as normas.
– E também está gastando mais de 10 kw/h mensais.
– Tem razão. Nosso estoque de velas acabou na semana passada…
– Pois é… Mas a sua situação se agravou ainda mais. Anteontem, às 8h da manhã, o senhor abriu a janela e aspirou profundamente. O seu aspirômetro passou dos limites permitidos a cada pessoa, 2mmHg. Está tudo registrado aqui na CCC – Central de Controle do cidadão.
– Perdão… era uma linda manhã… soprava uma brisa fresca…
– Lamento, cidadão, mas vamos ter de mudá-lo de classe. O senhor passa do nível de Consumidor “C” para o nível de consumidor “B”.
– Existe o consumidor “A”, que pode respirar à vontade?
– Existe, mas só para a classe dirigente…
– Então, não terei uma oportunidade?
– Não. Consumindo tanta água, energia e ar, o senhor está prejudicando a sociedade como um todo. Devia ser mais econômico.
– E quais são as consequências práticas?
– O cidadão pagava um salário-mínimo para beber água, acender duas lâmpadas e respirar. Agora, passa a pagar dois salários-mínimos. E se a situação se agravar, o Estado terá de transferi-lo para a zona rural, onde existe mais ar disponível, sobrevivem dois riachos e não há energia elétrica.
– Mas não foi isso que o Governo prometeu. Na campanha eleitoral, prometeram que teríamos liberdade para respirar fundo…
– De fato, eu também ouvi aquela promessa… Mas, com a guerra na Ucrânia, nós estamos no sufoco… Bom dia! E não esqueça a máscara contra gases!
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