Aqui e ali, sou procurado por jovens que desejam publicar seus textos. Não deixa de ser um belo sonho… Pelo menos não perdem sua juventude em joguinhos eletrônicos ou bate-papo na esquina.
Lembro-me de um garoto que me entregou um maço de originais. Seriam contos, disse ele. Examinei a primeira página e perguntei:
– Já leu Giovanni Guareschi?
– Giovanni quem?!
– Guareschi…
– Não. Não li.
Pois é, amigo leitor… Querem escrever histórias curtas e não leram Giovanni Guareschi. Pode?
– Já leu Somerset Maugham?
– Acho que não…
– Bem, pelo menos você tem uma qualidade dos jovens: ousadia…
– E isso é bom?
– Seria muito bom se, ao mesmo tempo, você não tivesse um defeito do jovem…
– Qual?
– Imprudência!
E o garoto foi embora meio chateado comigo. Não fiquei sabendo se ele se animou a ler Guareschi.
Antes de pensar em escrever (e, muito menos, publicar!), penetrei o segredo dos livros. Ah! A impressão dos poemas de Tagore no primeiro livro escolar! Meu irmão e eu levávamos para casa os livros da biblioteca da escola sob a desculpa de encapá-los. A senhora diretora exigia que fossem devolvidos no dia seguinte. Assim, tínhamos noite e manhã para devorar o volume. Foi esta a minha escola de redação. Hoje, a garotada pensa que escrever é uma nova brincadeira para adolescentes desocupados…
Foi assim com o rapaz que se apresentou como cronista ao jornal “Opção”, em Volta Redonda, nos anos 70. O editor passou-o para mim. Seus textos amargos se resumiam à crítica das mazelas sociais, mais apropriados à página policial. Lirismo? Zero! Perguntei:
– Já leu Rubem Braga? Já leu João do Rio? Já leu Álvaro Moreyra?
Três vezes, não. E queria ser cronista. Arre!
Outra vez, foi aquela menina linda, com anéis de ouro nos cabelos em caracol. Trazia um volume de poemas. Como eram curtos, cheguei a ler três. Senti necessidade de perguntar:
– Já leu Cecília?
– Qual Cecília?
– Ora, Cecília Meireles…
– Não. Não li.
– Pois devia ler. Os poemas de Cecília têm ritmo envolvente, tem rimas inesperadas, tem imagens delicadas, raras sinestesias…
– Sinestesias? Que é isso?!
– Nada muito importante. Coisa de poeta…
E diante do olhar inquieto da quase poetisa, citei de memória:
– Seria bom ler Cecília: “o bordado do véu do dia… olhos de água e opala… a brisa penteia a verde seda fina do arrozal… aqui está minha voz – esta concha vazia… mangueiras que choviam horas ruivas…”
Desenxabida, a fadinha de ouro nos cabelos guardou seu volume na bolsa e foi embora. Sequer agradeceu o copo d’água.
Muito estranhos os novos poetas…