Imagens: a estrada e os desvios

Publicado por Antonio Carlos Santini 15 de setembro de 2017

imagens

“Antigamente Deus, que não tem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado por uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens, posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. … Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor.”

A observação é de São João Damasceno, 675 – 749 d.C., citada no “Catecismo da Igreja Católica” nº 1159. Além de apontar para a legitimidade do uso de imagens na liturgia sagrada, chama nossa atenção para a profunda guinada no culto divino motivada pela Encarnação do Verbo de Deus. Se o cantor da Primeira Aliança suspirava por ver o invisível – “Senhor, por que escondeis a vossa Face?”, Sl 88,15 -, agora é o próprio Jesus quem nos garante: “Bem-aventurados os vossos olhos, porque veem… Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo, e não viram…”, Mt 13,16-17.

Naturalmente, as imagens não são ídolos, são ícones. Os ídolos recolhem em si mesmos a adoração do idólatra; o ícone conduz o adorador até o Único que merece adoração. A imagem sagrada fala aos sentidos, mas não se detém neles. É o mesmo João Damasceno que explica: “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus”.

As imagens sagradas juntam-se aos demais materiais sensíveis que permitem à mente e ao espírito humano elevar-se a Deus. Imagens e vitrais, hinos e cânticos, afrescos e mosaicos, as letras impressas na Bíblia, os gestos e movimentos corporais – tudo se une e reúne para prestar culto ao Deus uno e trino.

Usos e abusos

Mas a história registra usos e abusos das imagens sagradas. Ainda hoje, é comum que o “fiel” atravesse a nave sem a mínima reverência ao Santíssimo Sacramento – Jesus Cristo ignorado no sacrário – e vá dar beijinhos melados na fita de Santo Expedito. No caso, a histórica falta de evangelização explica o tropeço. Mas é preciso dar atenção a um ponto fundamental: assim como a oração, também a imagem deve expressar a legítima fé eclesial. Reza-se como se crê. Mas também as imagens devem obedecer ao mesmo princípio. Assim, uma representação do Menino Jesus na cruz do Calvário constitui verdadeiro absurdo teológico. Mas já aconteceu…

Em seu livro “Diálogo Ecumênico – Temas Controvertidos”, Ed. Lumen Christi, Rio, 1984, Dom Estêvão Bettencourt escrevia: “As imagens, lícitas como são, podem sempre acarretar o perigo de exageros e abusos na piedade católica. Consequentemente, as autoridades eclesiásticas, ao mesmo tempo que aproveitam a veneração relativa das mesmas, têm exercido controle sobre os tipos de imagens utilizadas no culto cristão; nunca poderão ser inspiradas unicamente pelo esteticismo ou pela devoção popular exuberante, fantasista”.

Historicamente, a Igreja precisou condenar imagens da Santíssima Trindade na forma monstruosa de três cabeças sobre um mesmo tronco humano. É ainda o caso de anjos configurados a seres humanos, lembra Dom Estêvão, ou imagens sangrentas que possam impressionar as crianças, imagens com semblante de bonecas ou excessivamente abstratas, como costuma ocorrer desde o Modernismo.

Um caso bem atual verifica-se na devoção ao “Divino Pai Eterno”, que utiliza a imagem de uma “trindade” com 4 figuras, pois Nossa Senhora foi indevidamente acrescentada às Pessoas divinas, o que não leva em conta a necessária distinção entre Deus e os humanos. Outra impropriedade está na representação do Pai, que é puro espírito, de maneira antropomórfica, na figura de um velho. Ora, o Eterno não envelhece, será sempre jovem…

As imagens devem educar a fé. Não podem emitir uma mensagem contrária àquilo que cremos. Evitem-se pormenores inúteis, meros ornamentos. Utilizem movimento e cor, para atrair a atenção, em especial das crianças, alerta Dom Estêvão. E, óbvio, evitem cair no ridículo, como ocorre tantas vezes. Ou daremos razão a outros cristãos que criticam nossa tradição católica…

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