A Igreja é um corpo. Tem vida e pulsação. Mas pode ser ferido e sangrar…
O livro de Giovanni Cucci e Hans Zollner, Igreja e pedofilia, Uma ferida aberta, Edições Loyola, 2011, 126 páginas, apresenta de forma sucinta e objetiva uma abordagem do tema sob os ângulos da psicologia e da pastoral. Sua intenção é oferecer uma visão mais realista da situação que, via de regra, aparece na mídia envolta em uma nuvem de escândalo e confusão, sem ir ao cerne da questão.
As perguntas do cidadão comum parecem ser sempre as mesmas: como é que uma pessoa que se consagrou a Deus e ao serviço da Igreja chega a cometer crimes tão graves? Existe uma dinâmica psíquica por trás desse comportamento? Até onde chega a responsabilidade das autoridades da Igreja?
Os autores não falam de modo teórico. Sua formação e experiência em psicoterapia dão a seu trabalho um peso considerável. Com o objetivo de ir além do alvoroço midiático, começam por perguntar se o DSM, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, teve razões para eliminar o termo “perversão” da lista de desvios de comportamento humano, sob a alegação de evitar conotação “moral” a um trabalho científico.
Um ponto importante do estudo diz respeito à verdade das estatísticas. Alguns exemplos. Na Arquidiocese de Boston, EUA, nos últimos 50 anos, trabalharam cerca de 3.000 sacerdotes. Destes, 60 padres foram acusados de abuso sexual, o que dá um percentual de 2%. Na Arquidiocese de Filadélfia, desde 1950, prestaram serviço 2.154 sacerdotes. Foram apresentadas “provas confiáveis” contra 35 deles, ou seja, 1,4%. Na Arquidiocese de Chicago, foram apresentadas queixas contra 40 padres em um total de 2.200 em serviço pastoral: apenas 1,8% deles, página 26.
Outro desvio do noticiário tem sido associar de modo causal a pedofilia no clero ao estilo de vida celibatário. A tese é esta: se os padres fossem casados, os desvios não aconteceriam. Ora, os dados da realidade desmentem a tese. Citando G. Merchesi, o livro informa que “a recorrência do fenômeno da pedofilia entre os ‘ministros do culto’ nas comunidades protestantes dos EUA, mórmons, batistas, metodistas e episcopalianos, bem como entre ortodoxos, judeus e muçulmanos, estaria entre 3% e 5%, um dado alarmante, mas ainda inferior ao percentual da população adulta como um todo, onde o recurso à pedofilia giraria em torno de 8%”, página 39.
Assim, vai transparecendo a evidência de que a própria sociedade está pervertida, e tais desvios de conduta não são a marca registra de padres católicos e celibatários. Estamos vivendo uma cultura pedófila. Na Alemanha, por exemplo, Jan Carl Raspe, em seu Kursbuch, elogiou a Comune II, “onde os adultos incentivavam as crianças, apesar da resistência delas, a tentativas de relações sexuais. Entre os Grüne, ou Verdes, em 1985, houve a solicitação de descriminalizar o sexo com as crianças e, em l989, a célebre casa editora Deutscher Ärtzverlag publicou um livro que pedia abertamente que fossem permitidos os contatos pedossexuais”, página 48.
Na terceira parte do livro, trata-se da formação integral dos candidatos ao sacerdócio católico, com a busca de Deus, a necessária maturidade afetiva, o amor oblativo e a renúncia. E vem à luz o fato de que, hoje, os candidatos ao sacerdócio já não são privilegiados por um ambiente familiar onde sejam vivenciadas a religiosidade e a vida sacramental.
Na quarta parte, os autores realçam a importância do formador na seleção e discernimento, screening, dos jovens que se apresentam como candidatos. De fato, a má qualidade de muitos seminários e as falhas cometidas pelos formadores estão na raiz de grande parte dos desvios posteriormente verificados no clero.
No Apêndice da obra, o leitor encontra a Carta Pastoral de Bento XVI aos católicos da Irlanda, onde foram verificados graves episódios no seio da comunidade católica. O texto fala de erros cometidos e lições aprendidas, de graves feridas e desafios à fé, de sofrimento humano e confiança traída, de dor e culpa, mas também de encorajamento e esperança, de propostas concretas e de oração.
Comentários
Lendo os comentários sobre o livro, gostaria de acrescentar que se os pesquisadores sobre PEDOFILIA fossem mais atrás na história da humanidade, e em outros redutos masculinos, iriam encontrar coisas que com certeza, não publicariam ou não diriam os nomes dos lugares onde a moral é apenas uma cobertura para inglês ver. Uma pergunta: por que os jovens que estão nessas casas para jovens de vez em quando se revoltam, colocam fogo em colchões, e aprontam aquela confusão? Alguém já tentou levantar o por quê disso?
O que acho engraçado é que a Igreja Católica acaba sendo a palmatória do mundo. As pessoas se esquecem que PEDOFILIA não tem nada a ver com CELIBATO. Mas algumas cabeças podres se julgam tão conhecedoras de tudo que misturam as coisas.