Ao longo dos séculos, o mundo cristão contribuiu ricamente com a literatura universal. Os textos da cristandade englobam os mais variados gêneros. Além da posição destacada dos Evangelhos, temos as cartas, comentários bíblicos, estudos teológicos, catequeses, documentos pontifícios, narrativas missionárias, sermões, poesia sacra, romances, dramaturgia etc. Basta lembrar os escritos de Paulo de Tarso, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Dante Alighieri, Alessandro Manzoni, São João da Cruz, Padre Antonio Vieira, G. K. Chesterton, Georges Bernanos, entre outros autores de igual valor.
Mas o mais popular de todos os gêneros literários de inspiração cristã sempre foi, sem qualquer dúvida, a hagiografia. São as “vidas” de santos, biografias que narram a experiência espiritual de homens e mulheres nos quais a graça de Deus realizou maravilhas. Vale lembrar que até mesmo um escritor anticlerical, como o português Eça de Queirós, publicou um livro de contos sobre São Cristóvão, Santo Onofre e São Frei Gil.
É bem verdade que este gênero andou em baixa desde os anos 1960, talvez devido a uma mentalidade racionalista que tem alergia aos milagres, ou a um excessivo criticismo, responsável pela recusa do lado místico e sobrenatural dessas vidas. Pode ser, ainda, que uma visão horizontal do cristianismo, marcada sobretudo pela ânsia de fazer dos Evangelhos uma ferramenta de transformação social e política, também tenha contribuído para sufocar o gênero hagiográfico, sob o rótulo de alienação, tão ao gosto de Marx e Freud…
Mas as coisas estão mudando. Muitas editoras cristãs vão incluindo em seus catálogos novos títulos na estante da hagiografia. A Editora Flos Carmeli, de São Paulo, publicou a “Vida de São Carlos Borromeu”, de Cesare Orsenigo, 422 páginas, a “Vida de São João Bosco”, de G. B. Lemoyne, 2 volumes, 1316 páginas, e está para lançar a “Vida de São José de Cupertino”, o santo que voava.
A Editora Cultor de Livros, também de São Paulo, tem uma longa lista de vidas de santos publicadas recentemente. Podemos lembrar “São João Bosco”, de Henry Ghéon, “Santa Teresa, mestra da vida espiritual”, de Jesús C. Cervera, “Agostinho – o homem, o pastor, o místico”, de Agostino Trapè, “Fisionomias de Santos”, de Ernest Hello, e a “História da Família Martin”, de Stéphane J. Piat, sobre a família de Santa Teresinha de Lisieux.
Outro aspecto que me chama a atenção é o novo interesse por “santos de nossos dias”, canonizados ou não, vários deles com forte apelo sobre a juventude. É o caso do brasileiro GUIDO SCHÄFFER, que morreu aos 34 anos em um acidente de surfe, em 2009. Formado em Medicina, cursava o último ano do seminário e já havia deixado uma marca indelével de amor e fé em centenas de pessoas.
Outro exemplo é a italiana CHIARA CORBELLA PETRILLO, falecida em 2012, aos 28 anos, vítima de um câncer descoberto durante a terceira gravidez. Casada com Enrico Petrillo, tinha visto falecer, pouco depois do parto, seus dois primeiros filhos, Maria Grazia Letizia e Davide, e não hesitou em adiar o tratamento com quimioterapia para depois do nascimento de Francesco, pelo qual deu sua vida.
Também é grande o interesse do público jovem pelo novo beato CARLOS ACUTIS, londrino de pais italianos, chamado de anjo da juventude, beatificado em 10 de outubro de 2020, em Assis, Itália. Falecido aos 15 anos de idade, incluído na geração do milênio, destacou-se por seu testemunho cristão nos meandros da Internet.
Enfim, as vidas de santos têm um grande potencial evangelizador. Como ensinou o Papa João Paulo II, “o homem contemporâneo acredita mais nas testemunhas do que nos mestres, mais na experiência do que na doutrina, mais na vida e nos fatos do que nas teorias. O testemunho da vida cristã é a primeira e insubstituível forma de missão”. (Redemptoris Missio, 42).