Pé na estrada
Toda manhã, você pega a estrada. Se tem esse privilégio, logo depois da missa e da comunhão. No ônibus ou no metrô, sempre dá tempo de repassar mentalmente o Evangelho do dia. Afinal, terá um dia cheio pela frente…
Logo veremos você no balcão da loja ou no canteiro de obras. Talvez no escritório ou na sala de aula. São muitos os espaços de ação do leigo cristão. E nesses mesmos espaços você estará frente a frente com pessoas que ficarão felizes com um sorriso, uma boa palavra, um bom conselho, a cooperação no trabalho, o atendimento cheio de atenção.
Você não precisará fazer sermões nem citar as Escrituras. Você em pessoa é o Evangelho possível para muitos deles. Se não o “leem” em seus gestos, não o lerão em parte alguma. Num momento de pausa, cabe uma breve oração por esses “visitantes” ou por todos aqueles que vivem mergulhados no mundo do sofrimento e da dor. Nada melhor que ser uma ilha de graça em um mundo de desgraças…
Sei que muita gente preferiria a calma do quarto, quase uma cela de convento, para se concentrar em Deus em clima de misticismo. Mas Deus saiu do quarto e foi para as ruas. É lá que o encontrará. Por incrível que pareça, Deus estará entre vendas e balancetes, contratos e projetos, aulas e pesquisas, reuniões e cafezinhos.
Veja o que diz Carlo Carreto:
“Os muros dos conventos tornam-se cada vez mais finos e mais baixos: aqueles que vivem a virgindade no mundo tornam-se cada vez mais numerosos. Os próprios leigos tomam consciência de sua missão e buscam por sua espiritualidade. É de fato a aurora de um mundo novo, ao qual poderíamos, sem retórica, dar o nome de ‘contemplação nas estradas’.”
Assim se vive a religião cristã, sem oposição entre fé e vida. O documento 105 da CNBB fala sobre esta lamentável mentalidade que pretende dissociar o dia a dia dos princípios da fé. “Segundo esta mentalidade e prática, o mundo da fé é superior e, até mesmo, oposto ao mundo da vida. Por fé, entende-se tudo o que se relaciona ao mundo espiritual, ao culto e aos sacramentos. No outro lado, estaria a vida comum: o trabalho, as funções e os compromissos familiares, a educação dos filhos, o mundo da política etc.”
“Nos Evangelhos, ao contrário – prossegue o mesmo texto -, Jesus nos mostra como a fé se expressa em todas as dimensões da vida: pessoal (Mt 6,21), familiar (Mt 19,14), comunitária (Mt 18,21), profissional (Lc 19,8), sociopolítica (Mt 6,24; 25,35) religiosa (Mt 7,21). Por isso, não podemos separar a fé da vida, mas pela fé, viver e realizar ações consequentes para a revelação e expansão do Reino de Deus na história.” (Nº 133a)
Então? Pé na estrada!