Como todos sabem, chamamos de “cultura” ao conjunto de traços que caracterizam uma nação ou grupo social, como as tatuagens dos polinésios, o kilt dos escoceses, o saquê dos japoneses, os telhados alpinos, as cimitarras dos árabes, o samba dos cariocas. Entre tais traços culturais, destacam-se os “costumes”. Vejamos alguns exemplos:
1. Na Índia do século XVII, quando morria o homem, seus objetos pessoais e sua viúva eram queimados em uma fogueira: era a “tradição Sati”. Quando os colonizadores ingleses proibiram esse ritual, em 1829, houve violenta reação dos hindus contra a interferência estrangeira em seus assuntos religiosos. Tal costume ainda perdura, embora de forma discreta.
2. Entre os moradores do Círculo Ártico, esquimós ou inuits, a principal tarefa da mulher consiste em mascar o couro de ursos e focas para amaciá-los e, depois, transformá-los em sapatos e roupas. Por volta dos 30 anos de idade, a mulher já gastou todos os seus dentes e se torna “imprestável” para seu trabalho. Então, ela sai caminhando pela vastidão gelada até desfalecer e morrer, pois não quer ser um traste inútil para seu homem.
3. Na Europa do século XVI, ainda que nominalmente cristã, era muito comum abandonar um recém-nascido indesejado. Assim nasceu o costume, em mosteiros católicos femininos, de colocar uma cesta do lado de fora das portas giratórias, hoje copiadas pelas instituições bancárias…, para recolher os pequenos descartados, que seriam alvo de cuidados maternais. Havia uma freira encarregada de vigiar à porta: a “irmã rodeira”, que ficava junto ao portão rotatório.
Apenas três exemplos para gravar alguns traços da mentalidade do paganismo que a mensagem do Evangelho veio corrigir, os velhos considerados como descartáveis quando não produtivos, a esposa vista como propriedade material do marido, a vida nascente desprotegida. À medida que o Ocidente acolheu a mensagem do Evangelho, as nações adotaram medidas legislativas para corrigir tais “costumes”, considerados bárbaros.
Hoje, em pleno século XXI, muitas nações já alteraram novamente seus corpos legislativos para “legalizar” aqueles mesmo costumes bárbaros antes inaceitáveis. A Holanda legalizou a eutanásia, a princípio, eliminar um velho não produtivo, mas logo depois incluir também crianças com doenças terminais, enquanto o Brasil volta a examinar o pretenso direito ao aborto provocado. Segundo informa a Wikipedia, “o suicídio medicamente assistido é legal na Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Canadá, Suíça, Colômbia, Alemanha e em sete estados norte-americanos. Geralmente é necessário que a pessoa seja um doente terminal com um prognóstico de seis meses ou menos de vida para que possa requisitar uma dose letal de um fármaco que possa autoadministrar para pôr termo à vida”.
No atual debate sobre o aborto “legal”, a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, publicou nota em que reafirma a posição da Igreja e a visão cristã a respeito da vida humana: “Jamais um direito pode ser exigido às custas de outro ser humano, mesmo estando apenas em formação. O fundamento dos direitos humanos é que o ser humano nunca seja tomado como meio, mas sempre como fim. Ninguém nunca poderá reivindicar o direito de escolher o que mais convém por meio de uma ação direta que elimine uma vida humana, pois nenhuma pessoa tem o direito de escolha sobre a vida dos outros”.
Para concluir: o processo de evangelização, desde seu início, no primeiro século da Era Cristã, produz um choque frontal com a cultura dos pagãos. Um rápido exame da situação mundial demonstra que nossa sociedade regride rapidamente rumo ao velho paganismo. Não vai ser fácil, parece, continuar considerando o homicídio como ilegal… Proteger a vida é coisa de cristãos…